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terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Casulo

Desde que cheguei a esta terra não me reconheço mais. Meu cabelo não se comporta da mesma forma, minha rotina de sono está alterada pela falta de sol e excesso de tempo em casa, minha alimentação ainda é desregrada, minha expressão nas fotos é algo irreconhecível para mim. E meu nome, como é? Já não o reconheço ao chamá-lo. Aneise? Eneise? Anisa? Hanna? Lanna? Lisa? É, Anaíse é uma palavra impossível na língua inglesa (tudo bem, ela é difícil em portuguès também... Mas ao menos segue as regras gramaticais!).
Também perdi minha identidade profissional - tenho dois diplomas sem validade alguma aqui e experiência profissional de igual falta de valor, como se meus últimos dez anos fossem apagados sem dó. E pensar que nem me reconheço sem eles... Quem eu sou além de uma psicóloga idealista, sem poder sê-la e sem ideais a que lutar?
O povo fala uma língua que não entendo, que não é a minha. Cadê os 'bah', 'tchê' e 'buenas'? Quantos 'pila' isso custa? Cadê as cochilhas na paisagem? E o verde, onde se escondeu? Nunca havia visto tantos tons de branco e cinza... E nem um povo tão fechado, lutando para sobreviver em situações tão adversas. Como sobreviver ao frio e à tendência depressiva que ele traz? E essa neve toda, de onde surgiu?? Ok, essa é a melhor parte, até ver a entrada da casa cheia dela e saber que alguém vai ter que tirá-la de lá...
Esse não é meu chão, mas era essa a ideia: desbravar terras estrangeiras em busca de novos conhecimentos, de um novo eu, porque já me sentia estrangeira em minha terra natal. Havia esquecido que para um novo é sempre necessário desconstruir o antigo. Toda reforma pressupõe bagunça e paredes demolidas. E quando reformamos sentimentos, já amorfos por natureza, o caos se torna maior.
Como já cantavam os monarcas, "Se a estrada é nova faço crescentes as ânsias, pois se é cheia a inspiração são minguantes as distâncias". É só uma fase, tão ruim quanto boa. É dolorosa... Como não haveria de ser? Afinal, dessa fase não sairei como entrei. Não voltarei aos meus pagos da mesma forma como os deixei. Dessa experiência, não voltarei a mesma - nem mesmo almejava ser. E quem eu serei? Só espero que mais humana e melhor do que cheguei.


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