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terça-feira, 26 de maio de 2015

Halifax Public Garden

Bem no centro de Halifax, em meio a correria de transeuntes e trabalhadores e aos mais disputados pontos comerciais, um quarteirão repleto de calmaria, cores e belezas chama a atenção: é o Public Gardem (em tradução livre: jardim público). Lá estão árvores centenárias, flores recém plantadas, animais silvestres e muito lugar ao sol. É um lugar perfeito para passar uma tarde, fazer um picnic, passear com crianças, ler um bom livro ou somente ficar lagarteando no sol. Querem conhecer? Então vem comigo!





















 








terça-feira, 19 de maio de 2015

Prevenir é melhor do que remediar

Sou gaúcha e vivi por 10 anos em Santa Maria, tendo praticamente alma de cidadã da cidade. Acompanhei a tragédia da Kiss como se fosse uma vítima, tamanha foi minha empatia àqueles que lá estavam. Poderia ter sido comigo, pois a rotina das vítimas era a minha rotina em anos anteriores. Fui universitária lá e, apesar da boa educação que tive, estudei em um prédio sem a menor condição de segurança. A maior parte das janelas não funcionavam, algumas salas nem porta tinham e a escada de emergência era fechada com grade e sempre trancada com um cadeado. Mas isso foi há 5 anos, e antes da Kiss ninguém pensava em segurança. Talvez todos se sentissem seguros por nunca ter acontecido tragédias, que é o nosso tão famoso jeitinho brasileiro: nunca aconteceu... Por quê vou me preocupar?
Pois bem, agora minha rotina é em um país onde prevenção é levada a sério. Todos os prédios públicos possuem planos de prevenção de incêndio e rotas de fuga em locais visíveis. Todos mesmo, sem exceção. Em escolas e empresas todos são treinados sobre como reagir em casos de incêndio. No meu treinamento tive um turno inteiro dedicado a isso. O gerente nos levou a todas as saídas, de emergência ou não, e nos mostrou como proceder em caso de incêndio e outras situações de emergência, como ataque terrorista ou pessoa em emergência em saúde. Muitos empregos, que lidam diretamente com público, exigem que a pessoa seja treinada em primeiros socorros.
No prédio onde moro existem duas escadas de emergência, uma em cada extremo, facilmente acessíveis. Existem planos de fuga em todos os andares, próximo aos elevadores, onde todos os moradores precisam passar diariamente.
 



Em todos os corredores existem alarmes de incêndio e splinters (aqueles chuveirinhos que são acionados junto com o alarme de incêndio e ajudam a combater o fogo) e, acredite, dentro do meu apartamento (e em todos os outros também) existem 7 desses splinters, todos em pontos estratégicos a fim de cobrir toda a área em caso de incêndio. Eis a prova:



E vocês devem estar se perguntando: porque esse assunto agora?
Acontece que neste exato momento está tendo uma inspeção anual do sistema de combate a incêndio no prédio. Todos os alarmes estão sendo testados, assim como os sensores e os splinters. Todos! Estão passando nos corredores e de apartamento por apartamento para inspecionar o funcionamento e fazer adequações ao que não estiver correto. E isso que nosso prédio é antigo... Os novos devem ter mais esquemas de proteção ainda.
Eu sempre fui preocupada com prevenção, mas sei que sou exceção. Quando peço orientações para alguém sobre como proceder em alguma emergência geralmente ouço um "ai, não roga praga! Nunca vai acontecer!" Ok, mas e se acontecer, o que eu faço? Em uma emergência não vou ter tempo para aprender, preciso saber de antemão. E essa inspeção é para me mostrar que não estou errada, e que não é preciso esperar uma tragédia acontecer para aprender com ela. É preciso prevenir para que ela não aconteça.

sábado, 16 de maio de 2015

Blogueiro britânico diz que brasileiros exageram na rejeição ao Brasil

Passando pela timeline do meu facebook, encontrei um artigo muito interessante na BBC: Blogueiro britânico diz que brasileiros exageram na rejeição ao Brasil. Eu tenho falado isso, mas, como sou brasileira, não levo crédito. Sou criticada porque "não posso mostrar esses pontos negativos pois vou desencorajar as pessoas a saírem de um país tão precário quanto o Brasil" (palavras e opinião de pessoas no facebook e, que fique bem claro, eu NÃO compartilho). Pois bem, peço que leiam a opinião de um britânico, que talvez tenha mais valor por estar vendo de fora. Trago a vocês o texto original, que também pode ser conferido neste link:

"Pouco depois de chegar a São Paulo, fui a uma loja na Vila Madalena comprar um violão. O atendente, notando meu sotaque, perguntou de onde eu era. Quando respondi "de Londres", veio um grande sorriso de aprovação. Devolvi a pergunta e ele respondeu: ‘sou deste país sofrido aqui’.
Fiquei surpreso. Eu - como vários gringos que conheço que ficaram um tempo no Brasil - adoro o país pela cultura e pelo povo, apesar dos problemas. E que país não tem problemas? O Brasil tem uma reputação invejável no exterior, mas os brasileiros, às vezes, parecem ser cegos para tudo exceto o lado negativo. Frustração e ódio da própria cultura foram coisas que senti bastante e me surpreenderam durante meus 6 meses no Brasil. Sei que há problemas, mas será que não há também exagero (no sentido apartidário da discussão)?
Tem uma expressão brasileira, frequentemente mencionada, que parece resumir essa questão: complexo de vira-lata. A frase tem origem na derrota desastrosa do Brasil nas mãos da seleção uruguaia no Maracanã, na final da Copa de 1950. Foi usada por Nelson Rodrigues para descrever “a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo”.
E, por todo lado, percebi o que gradualmente comecei a enxergar como o aspecto mais 'sofrido' deste país: a combinação do abandono de tudo brasileiro, e veneração, principalmente, de tudo americano. É um processo que parece estrangular a identidade brasileira.
Sei que é complicado generalizar e que minha estada no Brasil não me torna um especialista, mas isso pode ser visto nos shoppings, clones dos 'malls' dos Estados Unidos, com aquele microclima de consumismo frígido e lojas com nomes em inglês e onde mesmo liquidação vira 'sale'. Pode ser sentido na comida. Neste "país tropical" tão fértil e com tantos produtos maravilhosos, é mais fácil achar hot dog e hambúrguer do que tapioca nas ruas. Pode ser ouvido na música americana que toca nos carros, lojas e bares no berço do Samba e da Bossa Nova.
Pode ser visto também no estilo das pessoas na rua. Para mim, uma das coisas mais lindas do Brasil é a mistura das raças. Mas, em Sampa, vi brasileiras com cabelo loiro descolorido por toda a parte. Para mim (aliás, tenho orgulho de ser mulato e afro-britânico), dá pena ver o esforço das brasileiras em criar uma aparência caucasiana.
Acabei concluindo que, na metrópole financeira que é São Paulo, onde o status depende do tamanho da carteira e da versão de iPhone que se exibe, a importância do dinheiro é simplesmente mais uma, embora a mais perniciosa, importação americana. As duas irmãs chamadas Exclusividade e Desigualdade caminham de mãos dadas pelas ruas paulistanas. E o Brasil tem tantas outras formas de riqueza que parece não exaltar...
Um dos meus alunos de inglês, que trabalha em uma grande empresa brasileira, não parava de falar sobre a América do Norte. Idealizou os Estados Unidos e Canadá de tal forma que os olhos dele brilhavam cada vez que mencionava algo desses países. Sempre que eu falava de algo que curti no Brasil, ele retrucava depreciando o país e dando algum exemplo (subjetivo) de como a América do Norte era muito melhor.
O Brasil está passando por um período difícil e, para muitos brasileiros com quem falei sobre os problemas, a solução ideal seria ir embora, abandonar este país para viver um idealizado sonho americano. Acho esta solução deprimente. Não tenho remédio para os problemas do Brasil, obviamente, mas não consigo me desfazer da impressão de que, talvez, se os brasileiros tivessem um pouco mais orgulho da própria identidade, este país ficaria ainda mais incrível. Se há insatisfação, não faz mais sentido tentar melhorar o sistema?
Destaco aqui o que vejo como um uma segunda colonização do Brasil, a colonização cultural pelos Estados Unidos, ao lado do complexo de vira-latas porque, na minha opinião, além de andarem juntos, ao mesmo tempo em que existe um exagero na idealização dos americanos, existe um exagero na rejeição ao Brasil pelos próprios brasileiros. É preciso lutar contra o complexo de vira-latas. Uma divertida, porém inspiradora, lição veio de um vendedor em Ipanema. Quando pedi para ele botar um pouco mais de 'pinga' na caipirinha, ele respondeu: "Claro, (mermão) meu irmão. A miséria tá aqui não!" Viva a alma brasileira!"

Chimarrão e café

Sempre tem um gaúcho perdido pelo mundo com seu inseparável chimarrão, torcendo para não ser questionada por algum guarda ou segurança sobre porte de erva e bomba. Mas nunca sem os olhares curiosos dos demais: que troço esquisito é aquele que a guria tá tomando?? 
No RS, chimarrão é companheiro de passeio, de rodas de conversa, de estudos/leitura e viagens. Aqui não é diferente, mas com o café e chá. Por todo lado há pessoas com canecas próprias ou copos com logomarcas de famosas cafeterias. É mais do que uma necessidade de cafeína e de aquecimento no inverno. É charme e marca registrada. Isso somente porque eles ainda não descobriram o chimarrão.



segunda-feira, 11 de maio de 2015

Só quem vive um inverno rigoroso entende a beleza da primavera

Há alguns anos, uma conhecida minha mudou-se para a Europa e, após muita neve, postou fotos lindíssimas da primavera colorida e com uma legenda que lembro até hoje: "Só quem vive um inverno rigoroso entende a beleza da primavera". Essa frase me marcou, mas não podia entendê-la. Até esse ano...
Não há definição melhor para este post. Amo o inverno gaúcho e todos os pequenos charmes, mas como já disse em outros momentos, não sabia de fato o que era frio de verdade, daqueles de congelar até a alma. Abaixo de tanta neve é difícil de viver - apenas se sobrevive. E os meses passam tão devagar... Até que, inesperadamente, temperaturas positivas fazem a alegria da galera. Em pouco tempo a neve derrete e as flores chegam timidamente, colorindo aos poucos a paisagem cinza. O sol começa a ganhar espaço e, com ele, o tão esperado calor. Claro que o calor não é o mesmo do Brasil, é bem mais ameno, mas já o suficiente para retomar a vida, atividades ao ar livre e tornar os parques habitáveis. As crianças brincam nas ruas, os cachorros passeiam alegres com seus donos, e até uma corajosa mulher ousa tomar banho de sol num parque público. Com tanta vida, até meus posts voltarão a ficar mais frequentes. Prometo!






terça-feira, 5 de maio de 2015

Retiro internacional

Uma das coisas que acontecem naturalmente (ou forçosamente) na vida no exterior é a reflexão e (des)valorização de coisas e pessoas que a rotina nos tira tal oportunidade. A saudade toma forma e nome, e quem não era tão importante acaba no esquecimento. O sentimento de solidão e de não pertença é constante, e tem outro formato. Claro que hoje está bem mais fácil, com tantas opções de comunicação e estar junto, mesmo que não fisicamente. A vida no Brasil segue, crianças nascem, pessoas morrem, festas acontecem e conquistas são colecionadas, e participar disso a mais de 9 mil km de distância fica inviável. Eu tinha consciência que tudo o que acontecesse nesse ano não teria a minha participação, assim como as minhas conquistas aqui eu não poderia compartilhar com todos que queria. Sentir isso na pele, porém, tem outra conotação, outro sentido.
Quando vim para cá a intenção era exatamente essa: ter meu retiro depois de 2 anos infernais. Refletir sobre decisões e relações é mais dolorido do que parece. Hoje eu já tenho mais firmeza nas próximas decisões e escolhas, mesmo sabendo que sempre há chance de erro. No início pensava que eu era a única a vir "fugida" de uma realidade nada boa, mas muitos que encontrei aqui tem a mesma história. Muitos deles vão se encontrar aqui e fixar moradia, outros vão se apaixonar em viajar e não vão querer fixar moradia em lugar nenhum, e outros, como eu, vão voltar pra casa sabendo que lá é, de fato, nossa casa. Muitas pessoas vão ser deixadas de lado, muitas outras vão ser ainda mais valorizadas.
Mas vocês devem estar pensando: isso se faz em qualquer lugar, em qualquer tempo. Posso até concordar em partes, pois a vida é sim feita de escolhas. O charme, porém, é a distância. Estar analisando a própria vida de fora, como quem assiste a uma novela, dá uma outra dimensão e outra visão, mais cética. Parece tão bom, mas nem todos suportam. Para mim, foi necessário e no momento certo. Se fosse antes, não estaria preparada para tanta mudança repentina. E é exatamente essa a ideia que quero compartilhar com este post: você está preparado para rever todos os seus conceitos? Se não estiver, pense nisso antes de sair do país. Você vai precisar.

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Direitos trabalhistas - Brasil x Canadá

No dia do trabalho, resolvi vir compartilhar com vocês diferenças entre direitos trabalhistas no Brasil e no Canadá. Digo isso porque a diferença, ao menos para mim, é gritante e surpreendente. Adivinhem qual país tem os melhores direitos trabalhistas que asseguram a segurança e saúde dos seus trabalhadores? Isso mesmo, o Brasil! Opa... Como assim?
Não, não me enganei ao escrever. Os direitos trabalhistas brasileiros estão muito mais avançados que os canadenses, apesar de este ser um país de primeiro mundo e aquele, de terceiro (ou segundo, dependendo o ponto de vista). O Canadá tem um problema muito sério em relação aos aposentados, que são cada vez mais numerosos e pesam aos que ainda estão trabalhando. Por sua vez, essa mão de obra está aquém do necessário, por isso a necessidade do governo em atrair imigrantes. Qual é a consequência? Sobrecarga de quem trabalha. Ainda, não há uma CLT, com regras padronizadas, como conhecemos no Brasil. Cada local faz suas próprias regras.
Aqui faltam algumas garantias básicas, como férias e licenças. Em alguns lugares o trabalhador só tem direito a férias após 2 anos de trabalho. Em todos, as férias são proporcionais ao tempo de serviço. Começam com 2 semanas e vão aumentando gradualmente com os anos de trabalho na mesma empresa para até 4 semanas - mas somente 2 são pagas, o resto do tempo é por conta do trabalhador. Licença maternidade depende de cada local, mas a maioria é de até 17 semanas com redução de salário (geralmente recebem só 70% do salário). Em alguns locais pode-se estender para mais tempo, mas sem receber salário. Ou seja, mantem-se o vínculo trabalhista, mas somente isso. Aposentadorias também são, em muitos locais, proporcionais, e onde é 100% a contribuição é bem alta. Feriados quase não existem. Hoje, por exemplo, é feriado, mas tudo está funcionando normalmente. Licenças de saúde também são outro problema, pois trabalhadores "part time" não tem esse direito - se ficar doente precisa recorrer ao seguro desemprego e por vezes não tem seu emprego quando voltar. Aliás, precisamos falar dessa categoria.
Há dois tipos de contrato: full time, que é o equivalente as nossas 40h semanais, em que o trabalhador recebe por mês e tem algumas garantias a mais, como direito a ficar doente. Geralmente esse tipo de contrato é para cargos maiores, como gerente. Os trabalhadores "comuns", tipo quem trabalha no comércio, são contratados "par time" e recebem por hora trabalhada. Porém, não há um padrão de horas, depende da escala. Em uma semana podem escalar a pessoa para 4h e em outra para 37h. E esses, obviamente, não tem quase nenhum direito. São explorados e descartados facilmente.
E funcionários públicos?? Primeiro mundo não tem concurso... O contrato é igual a de empresas privadas, sem nenhuma segurança e  com o mesmo tipo de seleção do setor privado.
Além de tudo isso, o tal do QI (quem indica) aqui é mais forte que no Brasil. Muitas empresas não contratam se não há referência de outro local ou pessoa influente. Existem processos seletivos que, se você não tem uma referência boa, como um gerente, seu currículo nem é analisado. Em outras, depois de todo o processo, o contrato só se efetiva após contato com a antiga empresa em que a pessoa trabalhava. Conseguem imaginar como isso é difícil para um recém chegado? Depois da primeira oportunidade as coisas se encaminham bem, mas até você ser conhecido no mercado de trabalho, é complicado...
Muitas coisas a gente só valoriza com comparação. Vendo esse sistema similar à revolução industrial, que facilmente descarta quem não produz como o esperado, não tem como não valorizar nossa querida e tão xingada CLT e sistema estatutário. Estamos mais evoluídos que muito país de primeiro mundo. Aí nosso povo elege o congresso mais conservador dos últimos tempos que quer acabar com tudo isso. Será que eles pensam que, por ser modelo de país de primeiro mundo, isso é o certo? Para o empregador, com certeza é o melhor. Para o povo, segue aquela sina de ser explorado para o lucro do patrão. Não há política pública que compense isso para o bem estar dos empregados. É a ciência evoluindo para o retrocesso humano. Pobre de quem não se revolta.