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sexta-feira, 25 de setembro de 2015

"E viveram felizes(?) para sempre..." - O fim do ciclo canadense e o retorno ao Brasil

Peço desculpas pelo abandono do blog e por não ter informado antes do meu retorno ao Brasil. Simplesmente não conseguia falar sobre isso, tampouco expor o retorno.
Sim, eu fui uma imigrante não que deu certo. Pela visão de quem sai do país, fui fracassada. Mas não é essa a minha visão.
Quando construí meu sonho canadense estava em um desespero total, vivendo exposta diariamente à todos os defeitos e problemas brasileiros. Eu queria fazer o certo, mas não conseguia, e estava sendo massacrada pelo nosso viciado jeitinho brasileiro. Naquele momento eu acreditava que odiava o Brasil, e que, em um país mais correto, como o Canadá, eu poderia ser "mais eu". Afinal, não tolero corrupção, por menor e mais fútil que seja, levo compromissos a sério e acredito nas pessoas como elas são, sem rótulos ou títulos: exatamente como o povo canadense é. Naquele momento parecia a melhor saída. Mas não foi.
Muitos me perguntavam se eu tinha medo da diferença cultural, e, obviamente, eu respondia que não, pois me identifico com aquela cultura. O que eu não esperava era o rótulo de imigrante, do qual eu jamais vou me livrar, e que me impede de "ser gente como a gente". Hoje entendo racismo, segregação, homofobia e qualquer outro tipo de preconceito cego. Vivi na pele o que é ser um excluído, sem chance de defesa.
Outro questionamento frequente era sobre a língua. Como estudo inglês desde a adolescência, acreditava que não era um desafio. Pois foi, e dos grandes! Uma coisa é falar inglês em um país onde é a segunda língua; outra, bem diferente, é conversar com nativos de sotaque forte. Não soube me expressar em diversas situações, e em outras consegui transformar em piada. Meu sotaque segue firme e forte, o que dificultou ainda mais as coisas. Imaginem uma gaúcha e seu típico sotaque. Agora imaginem esse sotaque em inglês. É, é bizarro. Mas as pessoas me entendiam, então, já estava de bom tamanho.
O maior desafio, porém, foi procurar emprego com o rótulo de imigrante e tendo inglês como segunda língua e com sotaque gaudério. Fui excluída de muitas vagas por ser "muito qualificada", mas, da maioria, fui excluída por ser imigrante - e com visto temporário. Não esperava de um país que necessita de mão de obra estrangeira ser tão preconceituoso com estrangeiros. A pergunta que mais ouvi nos meses que vivi lá foi: where are you from? E quando me demonstrava incomodada com a pergunta vinha a explicação: your accent is so strong... Aí eu tinha que explicar que meu sotaque é forte em português também em função do local de onde venho. As pessoas entendiam, mas eu me sentia excluída, sem lugar.
Eu não pertencia mais ao Brasil, mas também não pertencia ao novo país. Estava no limbo, no nada. Não podia mais ser psicóloga, mas também não podia ter uma nova profissão. Não podia mais falar português, mas meu sotaque denunciava que o inglês também não era meu. Não tinha mais convívio com meus amigos, mas também não tinha outros a quem chamar assim. Não tinha nada definido. Não era nada, além de uma massa amorfa. E esse preço foi muito alto, não tinha como pagar pra ver o que aconteceria. Não consegui me encontrar no velho novo, não consegui me adaptar. Fracassei.
Então tive a coragem de juntar o que restou de mim e recomeçar no meu país. Sim, aqui tem muitos problemas, mas é aqui que sou feliz.