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quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Que 2015 não seja leve nem breve

Esta passagem de ano vai ser histórica para mim. Não é só trocar dígitos ou calendários, mas alternar para o que foi o pior ano da minha vida até hoje para um ano de novas e intensas experiências e conhecimentos.

É sair do calor de 40 graus para a neve, largar a comodidade e segurança de um emprego público para uma aventura às cegas, sair de ambientes conhecidos para onde pareço um bebê aprendendo a falar e operar coisas simples do dia a dia, e deixar família e amigos a mais de 9 mil quilômetros para encontrar pessoas e culturas completamente diferentes. É, o que parece ser, uma completa loucura, mas também é o maior desafio da minha vida. Em 3 dias já começo a me acostumar com o que é bom e ficar imaginando se conseguiria 'regredir' ao meu antigo estilo de vida. Tem tudo para ser o melhor ano da minha vida! Pelo menos o mais gelado eu sei que vai ser...

Choque de cultura e a readaptação ao novo padrão

Viver em outro país é uma experiência incrível, mas muito difícil no começo. Absolutamente tudo aqui funciona de forma diferente, e quem precisa se adaptar somos nós - afinal, nós escolhemos vir para cá, eles estão no território deles. Os dias tem duração diferente - clareia depois das 7h da manhã e começa a escurecer as 4h da tarde - e o sol não é predominante. Agora, por exemplo, não são 5h e já está ficando escuro, e tenho a sensação de ser muito tarde. O ritmo de vida é diferente, não há um horário padrão para os serviços, como nosso horário comercial, e as coisas de casa também são diferentes (mais evoluídas). Tenho a sensação de voltar a ser um bebê e ter que aprender tudo de novo, inclusive a falar. A única coisa realmente conhecida para mim é o Carson, e olha lá, porque ele também vai sofrer mudanças com essa experiência.

O povo daqui é muito educado. 'Please', 'excuse me', 'sorry' e 'thank you' são as palavras mais ouvidas onde quer que se vá. Os lugares são silenciosos, as pessoas conversam em tom baixo e são organizadas ao caminhar, sem 'empurra-empurra'. A maioria espera sua vez e os idosos parecem ser respeitados. Aliás, há muito idoso por aqui! E eles parecem ter liberdade e independência, o que ainda não sei se é bom ou ruim. Por sermos estrangeiros e nosso inglês ainda ser muito ruim, as pessoas são pacenciosas e nos ajudam muito. Falam mais devagar, corrigem com delicadeza nossas frases e palavras e explicam mais do que fariam com as pessoas daqui. O que eu pensava ser a parte mais difícil, que é o desconhecimento e a relação com as pessoas, tem sido a mais fácil. Escolhemos muito bem o país para ser nossa primeira experiência internacional.

O trânsito é semelhante ao nosso, mas com menos carros, menos barulho e aparentemente mais organizado (a não ser nas conversões, que ainda não consegui entender como funcionam por não seguir uma lógica para mim). Os carros são novos e bons - ainda não encontrei carro velho ou 1.0, como nossos gol, palio e siena. A maioria também é automático e com preço menor que no Brasil. Aqui pode-se comprar um carro 2.0 automático e novo por um valor mais baixo do que nosso palio 1.0 sem tantos confortos que tínhamos no Brasil. Temos carteira de motorista internacional mas não pretendo dirigir no inverno em função da neve, que coloca emoção em tudo. Mas sobre trânsito e carros escrevo mais assim que puder entender como isso funciona. Por enquanto tenho conhecido apenas os ônibus, e posso dizer que funcionam bem melhor que no Brasil. Mas isso também vai ficar para um post exclusivo.

O preço das coisas está sendo complicado para mim. O valor é do produto, e no preço final é incluído o imposto, que aqui é de 15%. Eles acham caro, pois é o maior do país, mas para mim, que pagava muuuuuito imposto no Brasil sem ver retorno, 15% não é nada! A cidade é limpa, o trânsito organizado e parece ser seguro (pelo menos mais que no Brasil). Ainda não sei como é saúde e educação, mas a minha primeira impressão é que há retorno por parte do governo, e não descaso, como eu era acostumada. A única coisa não tão boa é a conservação das estradas, mas não por 'preguiça' dos governantes e sim pela imensa amplitude térmica. Pelo que entendi, todo ano há um reparo geral em todas as rodovias, o que provavelmente não é no inverno.

Até o '1,99' daqui é melhor. Há uma rede de lojas chamada 'Dolarama' que vende coisas a 1, 2 ou 3 dólares. E lá se encontra de tudo! Comida, roupa, acessórios, potchatcho... Essa loja é tão incrível que também vai merecer um post exclusivo assim que possível.

Aqui há coleta seletiva de lixo e o caminhão do lixo passa uma vez por semana para lixo comum e uma vez a cada quinze dias para reciclável e orgânico (em uma semana orgânico e na outra reciclável). Dessa forma, as pessoas se obrigam a produzir menos lixo e a dar um destino ecologicamente correto a ele. Também há muita badalação em cima de produtos orgânicos e ecologicamente corretos, assim como há feirinhas ao ar livre como temos no Brasil, e muito valorizadas.

As pessoas parecem gostar de ler, pois há muitas e grandes bibliotecas, aparentemente mais do que academias de ginástica. Frequentar academia não parece ser tarefa fácil por aqui em função dos horários e temperatura.

Para encerrar, vou falar um pouco das coisas de casa:
todos os cômodos tem calefação, e entrar e sair de casa é sempre uma trabalheira com roupas e calçados. As casas ficam fechadas (suja menos!) e há sistema de desumidificação em função disso. Na casa onde estamos há muita economia de água, inclusive do banho (essa foi difícil). Vou explicar por partes para ficar mais fácil:

BANHEIROS
Nos banheiros há banheira e chuveiro, mas ainda não testei a banheira, e controle de temperatura nas torneiras - uma para água quente e outra para água fria. O chuveiro não é elétrico pois há sistema de aquecimento central, e descobrir como funciona é um desafio. Há apenas um registro, e quanto mais se abre, mais água fria sai, e a pressão da água é sempre a mesma. A saída de água padrão é a da banheira, e para ativar o chuveiro é necessário bloquear ela. O espaço para banho é reduzido e isolado por uma cortina, o que exige de nós maior cuidado do que com nosso box de banheiro, que isola totalmente a área de banho. Nos banheiros públicos a descarga é automática, assim como as torneiras, e estão sempre limpos.

LAVANDERIA
As máquinas de lavar roupas são com abertura frontal e é necessário selecionar a temperatura da água, pois a do encanamento é tão gelada que danifica as roupas e não limpa direito. Há obrigatoriamente uma secadora, muito útil, e não há tanque ou varal nas casas. Onde estamos existe um varal, mas não é convencional por aqui pois a roupa nunca fica 100% seca (é cidade de praia). No inverno, utilizar o varal é insano, pois as roupas congelam nele. Os potes de sabão líquido (não existem em pó) e amaciante são enormes, equivalentes aos nossos econômicos (e os econômicos servem para um ano, +-, de tão grandes) e há poucos tira manchas no mercado, pois a água quente acaba por ser mais eficiente neste quesito.

COZINHA
Aqui me senti uma completa alienígena. As geladeiras são opostas às nossas (geladeira em cima e freezer embaixo), o fogão é elétrico (e para quem está acostumado à gás é um desafio e tanto...), as esponjas são menores e a água quente na torneira é obrigatória. A principal refeição deles é a janta, e eles costumam beliscar muito durante o dia. As embalagens de comida são sempre grandes e eles utilizam muitos grãos e sementes, e por isso é algo barato por aqui. Poucas comidas são, como chamamos, "de sal". A maioria é tipo fast food e práticas de preparar. Há poucas variedades de frutas e são mais caras que no Brasil por serem importadas, em compensação vegetais são bastante populares, assim como as sopas (fácil de entender com o frio que faz aqui). No mercado, as embalagens são grandes e há muita comida industrializada. Eles adoram coisas com mel, "berries" (blueberry, cramberry...) e mapple, e muito tempero. Maionese, por exemplo, é mais fácil e barato encontrar com temperos do que as comuns. Bebidas alcoolicas não são vendidas em supermercados, e sim em lojas específicas, e são bastante populares. Não encontrei feijão cru, apenas enlatado pronto, e há pouca opção de arroz, a maioria com 'acessórios' como legumes. Leite condensado também não encontrei, mas como já estava avisada, trouxe do Brasil, assim como minha tão necessária erva mate (e não houve nenhum problema em entrar com essas coisas no país). Pão também há pouca oferta, em compensação cereais matinais tem de todos os tipos e gostos. O café daqui é bom e é ofertado em muitas variações, como french vanilla, capuccino, extra creamy e por aí vai. Sem mais delongas, vou escrevendo cada novidade culinária que encontrar por aqui separadamente.

QUARTO
Esta foi a única peça da casa que me senti familiarizada. As casas aqui são na maioria de madeira por fora e gesso acartonado por dentro por resistirem maior variação de temperatura e ser mais confortável termicamente por dentro. Por isso, muitas casas tem o guarda-roupa embutido, chamado 'closet', e vários deles espalhados pela casa. De resto, é igual ao Brasil.

SUBSOLO
A maioria das casas tem subsolos ou garagens que são transformadas ou em gigantes porta entulhos ou em outras casas. Aqui há uma outra casa montada no porão, e muito bonita. Ninguém ainda mora nela por necessitar algumas reformas, mas é bastante comum o aluguel dessas peças mais baratos que apartamentos ou casas convencionais. No Brasil, em função da humidade, é inviável essa prática, mas como mencionei acima, há um sistema de desumidificação em toda a casa, o que deixa de ser um problema. O único porém em alguns lugares é a falta de ventilação natural e pouca iluminação, mas no meu ver não é um problema de fato, visto que onde eu morava no Brasil, que era térreo, era muito pior do que os porões daqui.

SALA
Nas casas antigas há quase mais sala do que quarto, e o esquema é o mesmo: sofá, televisão, computadores... As casas mais novas têm sido contruídas em 'tamanho reduzido', mas ainda assim são maiores do que nossas caixinhas de fósforo brasileiras. Coisas que para eles é um problema, por estar começando a aparecer agora, para nós já é fichinha, como o tamanho das peças. Eles vêem isso com maus olhos. Mal eles conhecem nossa precária realidade...

Logo logo vou escrevendo especificamente sobre cada assunto para poder desenvolver mais, mas para isso preciso conhecer cada coisa melhor. Por enquanto são primeiras e parcas impressões.
Amanhã escrevo como foi a virada do ano por aqui.
Feliz ano novo a todos!

Sobre o frio

Este é o assunto mais esperado e questionado: como é o frio aqui?
Sou gaúcha, desde pequena acostumada a enfrentar dias gelados comendo bergamota no sol e fugindo do minuano através de muitos casacos, blusas e mantas. Mas preciso confessar: eu não conhecia frio de verdade! O que temos aqui é algo completamente fora do imaginável para nós, brasileiros. Lá usávamos toucas e luvas realmente como acessórios, pois passávamom sem. Aqui qualquer pessoa que sair na rua sem proteção literalmente congela. É um frio diferente... A sensação é de estar sempre dentro de um freezer muito potente, com ventos que queimam a pele em poucos minutos. Com neve tudo fica pior - até respirar vira uma tarefa difícil. No entanto, tudo fica mais bonito. Ver a neve caindo é incrível! Parece ser um vendaval de flocos de algodão.
Antes de vir para cá não entendia porque as pessoas ficam tão dependentes da calefação. Pensava: "mas como as pessoas não conseguem viver na temperatura normal? É só colocar mais casacos!
Mas sério: é impossível viver sem calefação aqui. As coisas simplesmente não acontecem. Simples tarefas do dia a dia, como fazer comida ou ir no banheiro ficam impossíveis sem calefação. Uma dúvida minha agora é entender como as pessoas pobres sobrevivem, pois apesar de ser um serviço básico, não é barato. Ontem estava conversando com a dona da casa e ela mencionou "lugares mais fáceis de se viver". Isso realmente define aqui - não é um lugar fácil para sobreviver. Roupas de frio são relativamente caras e são necessárias várias, e a rotina não é como queremos, e sim como dá. Como dizemos no RS, "é só pra galo véio".
Hoje é apenas meu primeiro dia de neve. Quem vive aqui diz que depois que neva a temperatura fica mais agradável (ou menos congelável). Só poderei dizer amanhã...
Por hoje, algumas fotos do início da neve:


segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

A viagem

Enfim, estamos em terras canadenses!
No meio da viagem, o Carson me perguntou brincando: quer voltar para casa? Foi aí que minha ficha caiu... Casa? Que casa? Se tivermos alguma, ela não fica no Brasil. Pelo menos não neste ano. Ou seja, em um ano não vou ver nada conhecido ou familiar além do Carson. No mínimo desafiador.
Mas vamos ao que interessa. O vôo até aqui é muito cansativo, apesar de o avião ser ótimo, bem mais confortável do que os de vôo doméstico brasileiros.
Quanto à língua, a gente se atrapalha um pouco e vira uma mistura de inglês e português com muitos tchê's. O aeroporto de guarulhos é muito bagunçado, as informações são confusas e a parte internacional não segue uma sequência lógica. Muitas lojas lá dentro estavam sem aceitar cartão - e convenhamos, uma loja de aeroporto não aceitar cartão hoje em dia é inadmissível.  O aeroporto de Toronto já é bem mais organizado, apesar de os funcionários da imigração não serem muito amigáveis. O serviço de bordo da Air Canada é muito melhor que das nossas companhias também. Enquanto a Gol cobra 14 reais por um sanduichinho, na Air Canada tivemos jantar e café da manhã inclusos de excelente qualidade e com ótimo atendimento.
Minhas conexões foram com emoção! O vôo de Porto Alegre para São Paulo teve que arremeter por causa do mau tempo, e chegamos em Guarulhos em cima do laço. De São Paulo a Toronto teve atraso na autorização de decolagem, e na chegada também, e ficamos com menos de duas horas para fazer a imigração, o checkin para Halifax, despachar as bagagens e embarcar. Essa etapa foi mais que em cima do laço... Mas por sorte deu certo.
Uma coisa que me chama atenção na chegada é como nós, brasileiros, nos destacamos. Somos muito espalhafatosos para falar e andar. Nos esparramamos demais. E nisso é nítida a diferença nos aeroportos e nos vôos. No Brasil, todos tem pressa, falam muito, crianças choram e fazem estardalhaço e o lugar é ruidiso. Aqui é silencioso, todos esperam sua vez (nem que seja a força), as crianças parecem mais calmas (ou menos ruidosas) e caminham sem pressa - a não ser nós, que estávamos prestes a perder a conexão. Já preciso aprender a me comportar como eles, é muito mais bonito e confortável estar em lugares tranquilos.
Aconselho a quem vier, e a mim mesma no próximo vôo, a deixar bastante tempo entre as conexões para não passar esse desespero. Melhor esperar um pouco do que te que sair correndo desesperado. E os aeroportos internacionais tem muita diversão, nem se sente o tempo passar lá dentro. A não ser que você esteja atrasado.
Fica uma dica para mim mesma mas próximas viagens: não é necessário vir de bota, nem com tanta roupa! Passei muuuuuito calor, isso que estava de manga curta. Trouxe casaco leve e de frio, luva e manta e no fim só usei o casaco de frio para sair do aeroporto. Todos os lugares tem calefação ou se condicionado, e é bom para eu já ir aprendendo a como me vestir por aqui.
Agora que cheguei é hora de ir às compras. Minha bota é de couro, super convidativa a cair um tombo na neve, e meu casaco não é impermeável, inútil ao clima daqui. Mas essa parte merece um post exclusivo!

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Retrospectiva 2014

Não posso dizer que um ótimo ano está no fim porque este ano foi bem complicado para mim, mas também não posso negar que tive momentos bem intensos. Ver nosso sonho canadense se concretizar foi um misto de preocupação e alívio. Mas para mim o mais emocionante foi renovar minha fé na democracia, apesar de ter que ouvir tanta besteira de gente ignorante e sem conhecimento de história do Brasil (ou iludida que sempre fará parte de uma suposta elite privilegiada). Resumo meu 2014 em três fotos, desejando que 2015 essa galeria pra aumentar com mais cor.


quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Passaporte em mãos

Depois de muita espera e agonia, estou com o passaporte em mãos! Posso dizer que foi um processo com emoção... Teve direito a documentos não recebidos, fala de comunicação e greve dos correios com meu passaporte no meio do caminho. Já estou sem casa, sem encontrar minhas coisas, com as malas praticamente prontas e passagens em mãos. Agora só falta a contagem regressiva!
18 dias!