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quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Que 2015 não seja leve nem breve

Esta passagem de ano vai ser histórica para mim. Não é só trocar dígitos ou calendários, mas alternar para o que foi o pior ano da minha vida até hoje para um ano de novas e intensas experiências e conhecimentos.

É sair do calor de 40 graus para a neve, largar a comodidade e segurança de um emprego público para uma aventura às cegas, sair de ambientes conhecidos para onde pareço um bebê aprendendo a falar e operar coisas simples do dia a dia, e deixar família e amigos a mais de 9 mil quilômetros para encontrar pessoas e culturas completamente diferentes. É, o que parece ser, uma completa loucura, mas também é o maior desafio da minha vida. Em 3 dias já começo a me acostumar com o que é bom e ficar imaginando se conseguiria 'regredir' ao meu antigo estilo de vida. Tem tudo para ser o melhor ano da minha vida! Pelo menos o mais gelado eu sei que vai ser...

Choque de cultura e a readaptação ao novo padrão

Viver em outro país é uma experiência incrível, mas muito difícil no começo. Absolutamente tudo aqui funciona de forma diferente, e quem precisa se adaptar somos nós - afinal, nós escolhemos vir para cá, eles estão no território deles. Os dias tem duração diferente - clareia depois das 7h da manhã e começa a escurecer as 4h da tarde - e o sol não é predominante. Agora, por exemplo, não são 5h e já está ficando escuro, e tenho a sensação de ser muito tarde. O ritmo de vida é diferente, não há um horário padrão para os serviços, como nosso horário comercial, e as coisas de casa também são diferentes (mais evoluídas). Tenho a sensação de voltar a ser um bebê e ter que aprender tudo de novo, inclusive a falar. A única coisa realmente conhecida para mim é o Carson, e olha lá, porque ele também vai sofrer mudanças com essa experiência.

O povo daqui é muito educado. 'Please', 'excuse me', 'sorry' e 'thank you' são as palavras mais ouvidas onde quer que se vá. Os lugares são silenciosos, as pessoas conversam em tom baixo e são organizadas ao caminhar, sem 'empurra-empurra'. A maioria espera sua vez e os idosos parecem ser respeitados. Aliás, há muito idoso por aqui! E eles parecem ter liberdade e independência, o que ainda não sei se é bom ou ruim. Por sermos estrangeiros e nosso inglês ainda ser muito ruim, as pessoas são pacenciosas e nos ajudam muito. Falam mais devagar, corrigem com delicadeza nossas frases e palavras e explicam mais do que fariam com as pessoas daqui. O que eu pensava ser a parte mais difícil, que é o desconhecimento e a relação com as pessoas, tem sido a mais fácil. Escolhemos muito bem o país para ser nossa primeira experiência internacional.

O trânsito é semelhante ao nosso, mas com menos carros, menos barulho e aparentemente mais organizado (a não ser nas conversões, que ainda não consegui entender como funcionam por não seguir uma lógica para mim). Os carros são novos e bons - ainda não encontrei carro velho ou 1.0, como nossos gol, palio e siena. A maioria também é automático e com preço menor que no Brasil. Aqui pode-se comprar um carro 2.0 automático e novo por um valor mais baixo do que nosso palio 1.0 sem tantos confortos que tínhamos no Brasil. Temos carteira de motorista internacional mas não pretendo dirigir no inverno em função da neve, que coloca emoção em tudo. Mas sobre trânsito e carros escrevo mais assim que puder entender como isso funciona. Por enquanto tenho conhecido apenas os ônibus, e posso dizer que funcionam bem melhor que no Brasil. Mas isso também vai ficar para um post exclusivo.

O preço das coisas está sendo complicado para mim. O valor é do produto, e no preço final é incluído o imposto, que aqui é de 15%. Eles acham caro, pois é o maior do país, mas para mim, que pagava muuuuuito imposto no Brasil sem ver retorno, 15% não é nada! A cidade é limpa, o trânsito organizado e parece ser seguro (pelo menos mais que no Brasil). Ainda não sei como é saúde e educação, mas a minha primeira impressão é que há retorno por parte do governo, e não descaso, como eu era acostumada. A única coisa não tão boa é a conservação das estradas, mas não por 'preguiça' dos governantes e sim pela imensa amplitude térmica. Pelo que entendi, todo ano há um reparo geral em todas as rodovias, o que provavelmente não é no inverno.

Até o '1,99' daqui é melhor. Há uma rede de lojas chamada 'Dolarama' que vende coisas a 1, 2 ou 3 dólares. E lá se encontra de tudo! Comida, roupa, acessórios, potchatcho... Essa loja é tão incrível que também vai merecer um post exclusivo assim que possível.

Aqui há coleta seletiva de lixo e o caminhão do lixo passa uma vez por semana para lixo comum e uma vez a cada quinze dias para reciclável e orgânico (em uma semana orgânico e na outra reciclável). Dessa forma, as pessoas se obrigam a produzir menos lixo e a dar um destino ecologicamente correto a ele. Também há muita badalação em cima de produtos orgânicos e ecologicamente corretos, assim como há feirinhas ao ar livre como temos no Brasil, e muito valorizadas.

As pessoas parecem gostar de ler, pois há muitas e grandes bibliotecas, aparentemente mais do que academias de ginástica. Frequentar academia não parece ser tarefa fácil por aqui em função dos horários e temperatura.

Para encerrar, vou falar um pouco das coisas de casa:
todos os cômodos tem calefação, e entrar e sair de casa é sempre uma trabalheira com roupas e calçados. As casas ficam fechadas (suja menos!) e há sistema de desumidificação em função disso. Na casa onde estamos há muita economia de água, inclusive do banho (essa foi difícil). Vou explicar por partes para ficar mais fácil:

BANHEIROS
Nos banheiros há banheira e chuveiro, mas ainda não testei a banheira, e controle de temperatura nas torneiras - uma para água quente e outra para água fria. O chuveiro não é elétrico pois há sistema de aquecimento central, e descobrir como funciona é um desafio. Há apenas um registro, e quanto mais se abre, mais água fria sai, e a pressão da água é sempre a mesma. A saída de água padrão é a da banheira, e para ativar o chuveiro é necessário bloquear ela. O espaço para banho é reduzido e isolado por uma cortina, o que exige de nós maior cuidado do que com nosso box de banheiro, que isola totalmente a área de banho. Nos banheiros públicos a descarga é automática, assim como as torneiras, e estão sempre limpos.

LAVANDERIA
As máquinas de lavar roupas são com abertura frontal e é necessário selecionar a temperatura da água, pois a do encanamento é tão gelada que danifica as roupas e não limpa direito. Há obrigatoriamente uma secadora, muito útil, e não há tanque ou varal nas casas. Onde estamos existe um varal, mas não é convencional por aqui pois a roupa nunca fica 100% seca (é cidade de praia). No inverno, utilizar o varal é insano, pois as roupas congelam nele. Os potes de sabão líquido (não existem em pó) e amaciante são enormes, equivalentes aos nossos econômicos (e os econômicos servem para um ano, +-, de tão grandes) e há poucos tira manchas no mercado, pois a água quente acaba por ser mais eficiente neste quesito.

COZINHA
Aqui me senti uma completa alienígena. As geladeiras são opostas às nossas (geladeira em cima e freezer embaixo), o fogão é elétrico (e para quem está acostumado à gás é um desafio e tanto...), as esponjas são menores e a água quente na torneira é obrigatória. A principal refeição deles é a janta, e eles costumam beliscar muito durante o dia. As embalagens de comida são sempre grandes e eles utilizam muitos grãos e sementes, e por isso é algo barato por aqui. Poucas comidas são, como chamamos, "de sal". A maioria é tipo fast food e práticas de preparar. Há poucas variedades de frutas e são mais caras que no Brasil por serem importadas, em compensação vegetais são bastante populares, assim como as sopas (fácil de entender com o frio que faz aqui). No mercado, as embalagens são grandes e há muita comida industrializada. Eles adoram coisas com mel, "berries" (blueberry, cramberry...) e mapple, e muito tempero. Maionese, por exemplo, é mais fácil e barato encontrar com temperos do que as comuns. Bebidas alcoolicas não são vendidas em supermercados, e sim em lojas específicas, e são bastante populares. Não encontrei feijão cru, apenas enlatado pronto, e há pouca opção de arroz, a maioria com 'acessórios' como legumes. Leite condensado também não encontrei, mas como já estava avisada, trouxe do Brasil, assim como minha tão necessária erva mate (e não houve nenhum problema em entrar com essas coisas no país). Pão também há pouca oferta, em compensação cereais matinais tem de todos os tipos e gostos. O café daqui é bom e é ofertado em muitas variações, como french vanilla, capuccino, extra creamy e por aí vai. Sem mais delongas, vou escrevendo cada novidade culinária que encontrar por aqui separadamente.

QUARTO
Esta foi a única peça da casa que me senti familiarizada. As casas aqui são na maioria de madeira por fora e gesso acartonado por dentro por resistirem maior variação de temperatura e ser mais confortável termicamente por dentro. Por isso, muitas casas tem o guarda-roupa embutido, chamado 'closet', e vários deles espalhados pela casa. De resto, é igual ao Brasil.

SUBSOLO
A maioria das casas tem subsolos ou garagens que são transformadas ou em gigantes porta entulhos ou em outras casas. Aqui há uma outra casa montada no porão, e muito bonita. Ninguém ainda mora nela por necessitar algumas reformas, mas é bastante comum o aluguel dessas peças mais baratos que apartamentos ou casas convencionais. No Brasil, em função da humidade, é inviável essa prática, mas como mencionei acima, há um sistema de desumidificação em toda a casa, o que deixa de ser um problema. O único porém em alguns lugares é a falta de ventilação natural e pouca iluminação, mas no meu ver não é um problema de fato, visto que onde eu morava no Brasil, que era térreo, era muito pior do que os porões daqui.

SALA
Nas casas antigas há quase mais sala do que quarto, e o esquema é o mesmo: sofá, televisão, computadores... As casas mais novas têm sido contruídas em 'tamanho reduzido', mas ainda assim são maiores do que nossas caixinhas de fósforo brasileiras. Coisas que para eles é um problema, por estar começando a aparecer agora, para nós já é fichinha, como o tamanho das peças. Eles vêem isso com maus olhos. Mal eles conhecem nossa precária realidade...

Logo logo vou escrevendo especificamente sobre cada assunto para poder desenvolver mais, mas para isso preciso conhecer cada coisa melhor. Por enquanto são primeiras e parcas impressões.
Amanhã escrevo como foi a virada do ano por aqui.
Feliz ano novo a todos!

Sobre o frio

Este é o assunto mais esperado e questionado: como é o frio aqui?
Sou gaúcha, desde pequena acostumada a enfrentar dias gelados comendo bergamota no sol e fugindo do minuano através de muitos casacos, blusas e mantas. Mas preciso confessar: eu não conhecia frio de verdade! O que temos aqui é algo completamente fora do imaginável para nós, brasileiros. Lá usávamos toucas e luvas realmente como acessórios, pois passávamom sem. Aqui qualquer pessoa que sair na rua sem proteção literalmente congela. É um frio diferente... A sensação é de estar sempre dentro de um freezer muito potente, com ventos que queimam a pele em poucos minutos. Com neve tudo fica pior - até respirar vira uma tarefa difícil. No entanto, tudo fica mais bonito. Ver a neve caindo é incrível! Parece ser um vendaval de flocos de algodão.
Antes de vir para cá não entendia porque as pessoas ficam tão dependentes da calefação. Pensava: "mas como as pessoas não conseguem viver na temperatura normal? É só colocar mais casacos!
Mas sério: é impossível viver sem calefação aqui. As coisas simplesmente não acontecem. Simples tarefas do dia a dia, como fazer comida ou ir no banheiro ficam impossíveis sem calefação. Uma dúvida minha agora é entender como as pessoas pobres sobrevivem, pois apesar de ser um serviço básico, não é barato. Ontem estava conversando com a dona da casa e ela mencionou "lugares mais fáceis de se viver". Isso realmente define aqui - não é um lugar fácil para sobreviver. Roupas de frio são relativamente caras e são necessárias várias, e a rotina não é como queremos, e sim como dá. Como dizemos no RS, "é só pra galo véio".
Hoje é apenas meu primeiro dia de neve. Quem vive aqui diz que depois que neva a temperatura fica mais agradável (ou menos congelável). Só poderei dizer amanhã...
Por hoje, algumas fotos do início da neve:


segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

A viagem

Enfim, estamos em terras canadenses!
No meio da viagem, o Carson me perguntou brincando: quer voltar para casa? Foi aí que minha ficha caiu... Casa? Que casa? Se tivermos alguma, ela não fica no Brasil. Pelo menos não neste ano. Ou seja, em um ano não vou ver nada conhecido ou familiar além do Carson. No mínimo desafiador.
Mas vamos ao que interessa. O vôo até aqui é muito cansativo, apesar de o avião ser ótimo, bem mais confortável do que os de vôo doméstico brasileiros.
Quanto à língua, a gente se atrapalha um pouco e vira uma mistura de inglês e português com muitos tchê's. O aeroporto de guarulhos é muito bagunçado, as informações são confusas e a parte internacional não segue uma sequência lógica. Muitas lojas lá dentro estavam sem aceitar cartão - e convenhamos, uma loja de aeroporto não aceitar cartão hoje em dia é inadmissível.  O aeroporto de Toronto já é bem mais organizado, apesar de os funcionários da imigração não serem muito amigáveis. O serviço de bordo da Air Canada é muito melhor que das nossas companhias também. Enquanto a Gol cobra 14 reais por um sanduichinho, na Air Canada tivemos jantar e café da manhã inclusos de excelente qualidade e com ótimo atendimento.
Minhas conexões foram com emoção! O vôo de Porto Alegre para São Paulo teve que arremeter por causa do mau tempo, e chegamos em Guarulhos em cima do laço. De São Paulo a Toronto teve atraso na autorização de decolagem, e na chegada também, e ficamos com menos de duas horas para fazer a imigração, o checkin para Halifax, despachar as bagagens e embarcar. Essa etapa foi mais que em cima do laço... Mas por sorte deu certo.
Uma coisa que me chama atenção na chegada é como nós, brasileiros, nos destacamos. Somos muito espalhafatosos para falar e andar. Nos esparramamos demais. E nisso é nítida a diferença nos aeroportos e nos vôos. No Brasil, todos tem pressa, falam muito, crianças choram e fazem estardalhaço e o lugar é ruidiso. Aqui é silencioso, todos esperam sua vez (nem que seja a força), as crianças parecem mais calmas (ou menos ruidosas) e caminham sem pressa - a não ser nós, que estávamos prestes a perder a conexão. Já preciso aprender a me comportar como eles, é muito mais bonito e confortável estar em lugares tranquilos.
Aconselho a quem vier, e a mim mesma no próximo vôo, a deixar bastante tempo entre as conexões para não passar esse desespero. Melhor esperar um pouco do que te que sair correndo desesperado. E os aeroportos internacionais tem muita diversão, nem se sente o tempo passar lá dentro. A não ser que você esteja atrasado.
Fica uma dica para mim mesma mas próximas viagens: não é necessário vir de bota, nem com tanta roupa! Passei muuuuuito calor, isso que estava de manga curta. Trouxe casaco leve e de frio, luva e manta e no fim só usei o casaco de frio para sair do aeroporto. Todos os lugares tem calefação ou se condicionado, e é bom para eu já ir aprendendo a como me vestir por aqui.
Agora que cheguei é hora de ir às compras. Minha bota é de couro, super convidativa a cair um tombo na neve, e meu casaco não é impermeável, inútil ao clima daqui. Mas essa parte merece um post exclusivo!

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Retrospectiva 2014

Não posso dizer que um ótimo ano está no fim porque este ano foi bem complicado para mim, mas também não posso negar que tive momentos bem intensos. Ver nosso sonho canadense se concretizar foi um misto de preocupação e alívio. Mas para mim o mais emocionante foi renovar minha fé na democracia, apesar de ter que ouvir tanta besteira de gente ignorante e sem conhecimento de história do Brasil (ou iludida que sempre fará parte de uma suposta elite privilegiada). Resumo meu 2014 em três fotos, desejando que 2015 essa galeria pra aumentar com mais cor.


quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Passaporte em mãos

Depois de muita espera e agonia, estou com o passaporte em mãos! Posso dizer que foi um processo com emoção... Teve direito a documentos não recebidos, fala de comunicação e greve dos correios com meu passaporte no meio do caminho. Já estou sem casa, sem encontrar minhas coisas, com as malas praticamente prontas e passagens em mãos. Agora só falta a contagem regressiva!
18 dias!

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

A minha e nossa Santa Maria

    Hoje pensei em fazer uma postagem sobre a cidade que agora deixo para trás: Santa Maria. Pesquisei no google sobre imagens da cidade e bateu uma tristeza... As primeiras que aparecem são todas da tragédia da Kiss. Sei que infelizmente isso faz parte da história do município, mas também sei que somos mais do que isso. E isso me fez pensar no que Santa Maria significa pra mim, que posso resumir em uma palavra: desabrochar.
    Aqui foi onde me transformei em adulta, ao mesmo tempo que pude curtir coisas boas da adolescência. Conheci muita gente diferente, umas que levo comigo até hoje e outras que se perderam no caminho. Minhas lembranças daqui são todas intensas: ou muito boas, ou muito ruins. Foi aqui que iniciei minha vida acadêmica e tive tantas oportunidades de estágio, mas também foi aqui que vi as portas se fecharem profissionalmente por "falta de QI (quem indica)". Foi aqui que fiz muuuita festa com arrastapé, e também foi aqui que presenciei a tragédia da Kiss. Enfim, foram os anos mais intensos até aqui.
   Mas quero listar o que Santa Maria tem de bom, com suas devidas ilustrações:

- Temos a UFSM, que durante a semana é um centro de conhecimento, formação e informação, e aos finais de semana é um grande parque para qualquer tipo de lazer familiar (retrato de um dia de inverno no campus):


- Temos uma natureza ainda preservada e próxima a nós (momento registrado na Boca do Monte):


- Temos uma tímida vida cultural, mas que parece estar tomando fôlego ultimamente (registrado no famoso Theatro Treze de Maio):


- Temos uma vida religiosa ainda bastante marcada (registrada na Basílica da Medianeira, onde anualmente acontece uma das maiores romarias do estado):


- Temos uma história ferroviária de sucesso, mas que infelizmente virou passado:


- Temos uma rotina militar bastante intensa, e que traz muita gente pra cá (na foto, um dos quartéis da cidade):


- E o principal e melhor: temos bares e uma vida noturna bastante agitada, que vou ilustrar com o patrimônio de camobi: o boteco na locadora da faixa nova!


    Vale a pena conhecer a cidade. Ela tem um tempero diferente, trazido por pessoas de diferentes lugares e culturas, que transforma a cidade em algo raro. Melhor ainda é poder vivenciar o dia a dia daqui e conviver com tudo de diversificado que há aqui. Na minha memória, levo muito afeto daqui, e a certeza que esse tempo valeu a pena.




terça-feira, 25 de novembro de 2014

Notas à Mariéle



   Hoje sonhei contigo a noite toda, e era assim que tu estava: linda, sorridente e feliz... Estava bem! No sonho, me questionavam como tu poderia estar aí, mas eu tinha certeza absoluta que era tu. Acordei bem, com a sensação de que realmente estive contigo. Obrigada por vir me visitar, estava com muita saudade! Assim que der, prometo ir te visitar - no teu santuário, no que ainda nos resta de ti - para retribuir. Estou falhando nessa tarefa, eu sei... Mas também sei que tu está sempre comigo e entende esta ausência. Obrigada pelo conforto neste momento tão intenso para mim. Não sei se foi obra tua ou do meu inconsciente, mas de qualquer forma, era tudo o que eu precisava.
   Mari, querida... Não era assim que eu queria aprender como é a ausência de alguém. Não contigo. Mas, infelizmente, faz parte da vida. E 5 anos sem ti já se passaram rápido demais. Quem sabe um dia a gente se encontra, e eu possa puxar tua orelha por não estar aqui para presenciar o que tu tanto queria para mim - e ter visto dar certo! Me espera, que eu sei que do lado de lá o tempo é uma pluma, enquanto o daqui é tão denso. Só guarda meu lugar, que o teu, no meu coração, está devidamente preservado e alimentado.

Canadian Visa: checked!



    Eis que depois de dois meses, a resposta do meu futuro chegou!!! 
Parece que tive azar, pois a maior parte das pessoas que foram para o Canadá tiveram a resposta do visto bem rápido. O visto do Carson chegou logo, e quando chegou o dele pediram documentações adicionais do meu, como comprovação do financiamento no período da estadia e maiores comprovações da união com o Carson, já que o pedido foi de visto familiar. E aconteceu um atraso por um motivo muito banal: quando estes documentos foram enviados, o consulado não recebeu. Porém, apenas percebemos isso quando o prazo terminou e, ao entrar em contato com eles, eles alegaram este não recebimento. Atrasou no mínimo 2 semanas na resposta. Depois da garantia do recebimento, foi bem rápido -enviamos na terça, eles receberam na sexta e responderam na terça.
    O processo de solicitação do visto é relativamente simples, mas para ter maior garantia contratamos uma empresa para fazer isso por nós. Contabilizamos que se algo desse errado, a taxa do consulado seria bem maior do que o valor que a empresa solicitou. Além disso, foi muito tranquilo. Eles solicitaram a lista de documentos, enviamos a eles, eles enviaram todos os formulários preenchidos para assinarmos e depois avisaram a resposta. Para quem está sem tempo ou cabeça, ou quer maior tranquilidade, recomendo! A empresa que contratamos foi a Sul Vistos, de Porto Alegre, e gostei bastante dos serviços deles. Sempre que entrei em contato tive respostas super rápido, e eles tinham contato direto com o consulado, o que não consegui por mim (quando tentei entrar em contato com o consulado, eles avisaram que não poderiam dar respostas do processo, que era sigiloso). Enfim, não me arrependo dessa escolha. Saiu um pouco mais caro (cerca de 200 reais) mas me poupou muito tempo e preocupação, que deixei para gastar em outras coisas da viagem (e te falo em coisas!).
    Agora os próximos passos são terminar as malas e iniciar o período de despedidas. E essas últimas serão longas, visto que não é apenas uma mudança de cidade/país, mas é um período da minha vida que se encerra. Sair de Santa Maria é declarar o fim de qualquer transição - agora sou adulta, casada (confesso que essa percepção me assustou bastante) e qualquer consequência, boa ou ruim, é minha. Quem disse que seria fácil, né?! Só espero que todo este esforço valha a pena, e que eu possa encontrar no Canadá o conforto e oportunidades que Santa Maria não me oferecem mais. Foi bom, foi difícil e foi recompensador. Mas agora preciso de mais - não caibo mais aqui, nem a cidade me quer mais. E a escolha não foi por acaso. Houve um processo longo e exaustivo, que se iniciou há 2 anos, na procura de um local que pudesse oferecer as oportunidades que procuramos e que pudesse nos acolher com todos os sonhos e marcas da vida. Foi aí que chegamos ao Canadá e, posteriormente, a Halifax. E aqui a foto que fez com que eu me apaixonasse pela cidade:

 
Lindo, não?! 
Minha meta é chegar ali e (tentar) tirar uma foto de bombacha, camiseta do Rio Grande do Sul (ou do Grêmio) com a cuia na mão. Duvida? Então continua acompanhando minha aventura que aposto que vai ser (no mínimo) interessante e engraçada!


quinta-feira, 31 de julho de 2014

Sobre stress no trabalho e no trânsito:

Se todos soubessem e desempenhassem seu papel e respeitassem o outro, não estaríamos falando de epidemias.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Peripécias da pós graduação

Terminei a graduação como um rito de passagem, considerando-me “gente adulta” por ter um grau no nome. Fui trabalhar e conheci um mundo novo e fascinante, onde as pessoas confiavam a mim tarefas nem sempre fáceis, mas sempre com a certeza de que eu daria conta. Me vi organizando a vida de muitas pessoas e sendo agradecida por isso. Com todas as ambições da graduação, em nenhum momento dos cinco anos que passei nela pude imaginar que o início seria tão bom, tão instigante e desafiador. Querendo manter essa experiência, voltei à Universidade, agora como pós graduanda, acreditando que o final dos dois anos me traria essa mesma sensação, ou até amplificada. Novamente intervi na vida de outras pessoas, dei pitacos e opiniões sobre como as coisas funcionam e acrescentei outro grau no meu nome. Ainda fico emocionada ao ler “Psic. Ms.”, apesar de ter lido isso bem menos vezes que o “Psic.”, que é como realmente me sinto. Porém, desta vez foi diferente. Não teve o glamour nem o reconhecimento do esforço, que foi muito maior que o da graduação. Trabalhei e estudei, me virei em várias para dar conta de tudo mais a família e a casa, e terminei o mestrado apenas tendo um “Ms.” a mais no nome. Não foi nada do que ouvi de professores e colegas, não vi aumentarem as oportunidades, tampouco o reconhecimento. Tudo o que vivenciei nos primeiros anos de trabalho ficaram por lá, e a vida de mestre acabou sendo mais difícil e frustrante que a de graduada. Talvez eu tenha passado muito tempo dentro da universidade e pouco onde realmente interessa, que é no dia a dia sofrido de cada um. Prolonguei uma ilusão, aumentei uma frustração e permaneci no mesmo lugar. A entrada da pós graduação deveria vir com um aviso: “Cuidado! Aqui tem muito trabalho e pouco glamour. Se não quiser isso, nem venha para cá, procure outros lugares mais seguros e rentáveis”. Tudo  bem, eu sei que tem pessoas com sorte maior que a minha, mas ao que vejo de colegas e pessoas próximas, infelizmente ainda são exceção. Acontece que vivemos em um país em desenvolvimento, onde a qualificação profissional é vista como um gasto desnecessário e não como investimento. Ainda temos muito do Brasil Colônia, aquela terra explorada para dar o máximo de lucro e o mínimo de investimento. Como profissionais, temos a necessidade de procurar mais conhecimento e qualificação para o que nos desafia todos os dias, mas ingenuamente não percebemos que o empregador não quer qualidade, mas quantidade, que é o que aumenta o lucro – o que realmente importa a ele. Por ironia, ouvimos muito a desculpa de “não posso te contratar porque você não tem qualificação suficiente”. Hoje ouço “você é qualificada demais, tornou-se uma profissional cara”. Na verdade, isso só serve para mascarar o “você não tem indicações, por isso não serve para nós”. O mercado de trabalho hoje é canibal, e sobreviver nele não é tarefa fácil. A verdade é que não tem lugar para todos, e se sobressai quem faz aumentar a margem de lucro entrando nesse jogo (muitas vezes sujo) de “faça aumentar meu capital, independente do que você precisa utilizar para isso”. E a pós graduação nos ensina a pensar, a julgar pelo melhor caminho e maior qualidade. Assim sendo, nós, pós graduados, somos jogados para fora desse universo por não entrar nesse ciclo vicioso. E não estou instigando que deveria ser diferente, apenas penso que vai chegar um ponto que isso precisará se equilibrar. Mas até lá, futuro mestre, fique avisado que nem tudo são flores, muito menos o seu projeto irá mudar o mundo. Mesmo assim, vá em frente, pois ainda é melhor ser uma peça fora do jogo que consegue entender e conviver com o mundo do que um alienado que sofre por assim ser. E boa sorte!


quarta-feira, 30 de abril de 2014

A foto e o fato do dia

    Nos últimos dias tenho recebido tantos pequenos presentes que têm me realizado muito. A prova maior foi a reavivação de um hábito há anos perdido, que é a escrita no blog. Meu blog anterior não existe mais. Ele foi encerrado junto com uma fase de minha vida nada agradável. Foi como um rito de passagem... Ele guardava lembranças e descrições que não queria mais levar comigo. Hoje não. Refazer o blog foi, novamente, um rito de passagem, mas dessa vez para novas experiências e horizontes. Aos poucos vou compartilhando aqui os novos sonhos e planos, cada vez mais próximos e ao mesmo tempo tão distantes.
   Mas o que me traz aqui hoje é minha pequena alegria em forma de presente. E, sim, hoje é o primeiro dia que posto na data certa! Os textos anteriores são de vários dias diferentes, postados ao mesmo tempo como abertura do blog. 
   Encontrei em meu local de trabalho pessoas muito especiais. Foi o primeiro lugar onde atuei e meu primeiro emprego, que me acolheu melhor impossível. Encontrei pessoas que me "adotaram" - eu era uma pirralha de 20 e poucos anos em meio a muita gente experiente e com muitos ensinamentos, que por sorte pude aprender antes de ter que quebrar a cabeça com eles. Lá tem a "mamãe" conselheira, a "vovó" que é apaixonada por seu neto (essa eu só peguei emprestado), algumas primas distantes e a "irmã gêmea", alguém que de tão parecida em ideais e trapalhadas ganhou esse título. E o filho dela, a criança mais amável que já conheci, acabei "adotando" como afilhado emprestado. É dela que falo hoje, pois ela me trouxe uma foto dele para eu guardar na minha agenda, junto com um "mãe, diz pra ela que tô com saudades!". Foi um pequeno-grande gesto que fez meu dia valer - e muito! - a pena.
   Nessas horas percebo o valor de amigos e família. Pra ser feliz basta tão pouco, desde que regado com muito afeto. E estou me sentindo abençoada por tantos pequenos/grandes presentes diários. Agora sei que estou no lugar certo.
   A propósito, minha agenda ficou linda com a foto mimosa desse meu pequeno!

Com a palavra, o servidor.

Serviço público é um tema bem debatido atualmente, seja por profissionais que desejam nele ingressar e fazer carreira, ou seja pela população desejosa por qualidade. Quanto à população, é muito gratificante ver que “o gigante acordou” e entendeu que os serviços públicos, de qualquer natureza, não são apenas para quem não pode pagar particular, mas sim o retorno dos impostos pagos por todos. Sendo assim, não é um favor que o governo faz à população, mas sim uma obrigação para com ela. E, sabendo disso, é natural e saudável que venha essa cobrança, pois assim conseguimos ter maior qualidade e quantidade em todos os setores.
Essa cobrança da população fez surgir interesse em muitos profissionais de atuarem nessa área. Isso porque temos um mercado de trabalho confuso e exigente, que cobra dos candidatos competências e formações mirabolantes e muitas vezes impossíveis de serem alcançadas. Assim, prestar um concurso público é uma forma de garantir um emprego sem grandes exigências e com a garantia da estabilidade, inexistente em qualquer outro setor do mercado de trabalho.
Isso tem feito com que muitas vezes profissionais não tão capacitados passem em provas de seleção e virem uma espécie de problema, sendo acomodados e não colaborativos. Como funcionária pública em nível municipal, percebo que infelizmente esse tipo de profissional é o único que sobrevive na vida pública deste nível. Não há atrativos para que bons profissionais lá permaneçam, e a confusão dos serviços com a política praticamente expulsa quem possa vir a ter outra oportunidade em algum outro local, restando apenas os que querem sua estabilidade – e nada mais.
Aqui penso no perigo da meritocracia, defendida por muitos. Não sou contra esse método, porém percebo que não funcionaria em muitos setores públicos preteridos por candidatos, como vagas municipais. Se for tirada a estabilidade, qual seria o atrativo para permanecer em uma vida pública que preza por favores políticos e que oferece salários nada atrativos? Quem deixaria uma oportunidade de emprego em empresas que oferecem o dobro do salário, com as mesmas condições de trabalho, apenas por “amor à camiseta” da máquina pública? Talvez solucione grandes disputas em vagas muito desejadas, mas criaria um grande problema em outros locais. Afinal, não se pode agradar a todos...
De qualquer forma, a única certeza que temos é que vivemos em um momento de grandes mudanças e questionamentos. Por isso, toda ideia é válida, por mais absurda que seja, pois é questionando e refletindo sobre diferentes pontos de vista que a sociedade evolui. E é exatamente por essa evolução que surgiu o problema trazido neste texto.

                

De malas prontas

Hoje fui convidada por uma pequena-grande paciente a fazer uma viagem. Sem dizer uma só palavra ela me colocou em um carro feito por peças de lego, desenhou um passeio com direito à parada para tomar sorvete de chocolate e esboçou todos os seus fantasmas e alegrias em algumas folhas de papel e giz de cera. Nunca antes havia feito uma viagem tão interessante. E sem sair da minha poltrona! São essas sessões que me deixam encantada com a pureza e criatividade infantil. Posso viajar o mundo que jamais conseguirei transportar alguém com a mesma emoção como ela fez comigo. E assim as crianças vão me conquistando mais e mais...

Os retratos de uma vida

Durante a faculdade, sempre fui mito resistente à clinica. Na minha ingenuidade acadêmica, essa prática me parecia “pouco eficiente e muito demorada”. Quis o destino que eu experienciasse a clínica logo no meu primeiro emprego, que dura nada menos que 3 anos. Ao aplicar técnicas e teorias, logo comecei a perceber mudanças importantes em meus pacientes (nome que ainda tenho dificuldades em aceitar).
Trabalhando em saúde pública, realizei projetos e vivenciei diversas formas de intervenções. Porém, não custou para que eu percebesse que esse é nosso chão, e clínica não se faz apenas em uma sala fechada com um paciente sentado à frente. Assim, fiz clínica em escolas, em grupos, em oficinas ou atendimentos de outros profissionais, em salas de espera, e, também, solita com um paciente.
Aos poucos, a prática clínica foi me conquistando. Hoje, o que mais me recompensa na prática clínica são as surpresas com as quais nossos pacientes nos presenteiam. Aqui explico meu parênteses – não pode ser paciente quem muitas vezes toma as rédeas do tratamento! Agora sei que sou uma facilitadora, organizadora e orientadora, mas quem faz o trabalho sujo são eles, nossos atendidos. Por isso, nunca aceitei esse termo. Mas na falta de outro que traduza melhor esse papel, ainda o utilizo.
Hoje tive uma dessas gratificações, que de tão boa precisei vir aqui compartilhar. Estou atendendo alguém há cerca de 1 ano, de diferentes formas. Fiz intervenções em grupo e atendimentos multiprofissionais, até por fim vir a atende-la na clínica individual. Ela (uma mulher determinada no auge dos seus “30 e poucos”) sempre se demonstrou muito ativa e criativa. Com o tempo foi me contado sua “nada mole vida”, com muitas passagens tristes, desesperadas e sombrias. A sessão de hoje, porém, foi totalmente diferente de todas que já realizei até hoje, com ela ou com outros pacientes. Já cansada de contar-me sua rotina, ela decidiu por ilustrar. Fez uma compilação de sua linha do tempo até que aconteceu uma grande mudança. Depois disso, mostrou-me as pessoas mais importantes de sua vida. Tudo isso em um álbum de fotografias. Afinal, o que seria melhor para ilustrar um momento do que o registro dele?

Pois bem, eu adoro fotografias e por várias vezes já fiz compilações como esta. Nenhuma delas, no entanto, conseguiu comportar tanta história, sorrisos e lágrimas como a dela. Foi como ter visto sua alma com todos os seus sentimentos em cada história que compõe a sua própria. O que mais me tocou, então, foi a forma como ela conseguiu que eu tocasse sua alma com todos os remendos e feridas. Foi como um espelho me refletindo sua personalidade; quase como uma lupa. Senti-me tão despreparada enquanto profissional... Por mais técnicas e teorias, jamais conseguiria chegar a tamanha profundidade. Hoje a paciente fui eu, e ela me demonstrou na prática as palavras de Jung: “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana seja apenas outra alma humana”. E agora eu é que vou para o divã.