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quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

DIY - Do it yourself

Algo que me chamou muita atenção nas lojas daqui foi a sessão DIY (Do it yourself - em português, faça você mesmo). As ofertas de kits para artesanato são imensas! Os kits vem com todos os materiais necessários para confeccionar algo: linhas, agulhas, panos, a quantia necessária de miçangas, e o que mais for preciso. Vejam só:














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As opções vão desde brinquedos e mantas simples até filtro dos sonhos. Eu comprei um kit de ponto cruz, que são as últimas fotos e adorei! Tem a quantia exata de materiais, então depois de feito, não há sobras. Muito interessante!! 

Mas porque isso faz tanto sucesso aqui??
Simples! A cultura daqui diz que se você quer fazer algo, faça você mesmo! Não é comum pagar para outras pessoas fazerem algo como limpar a casa ou montar um móvel. Claro que isso as vezes acontece, mas é um serviço bem caro, pois toda mão de obra aqui é valorizada. Então, cada um faz o que bem entender e não é vergonha ou humilhação! Limpar a própria sujeira, abastecer o próprio carro e fazer a decoração da casa não tiram pedaço de ninguém, pelo contrário, é o que faz a tarefa ser mais valorizada. E é por isso que o povo daqui é tão tranquilo, pois cada um sabe de suas responsabilidades e segue isso sem vergolha. Um ótimo exemplo para seguirmos - só temos mesmo a ganhar. Já há um princípio desse hábito no Brasil, com custumização de roupas e bijuterias. Tomara que este movimento ganhe cada vez mais forças. Eu já sou adepta, e faço isso desde que estava no Brasil. Afinal, nada mais gratificante do que dizer "fui eu que fiz"! Vale mais que qualquer preço.

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Curiosidades culinárias canadenses

A identidade do Canadá é ser um país de imigrantes, não tendo uma só cultura ou costumes, mas um misto de vários. E não poderia ser diferente com a alimentação, claro! O ritmo deles é bem universal: você come o que quiser, a hora que quiser. O ritmo normal deles é fazer pequenos lanches durante o dia e um jantar mais reforçado a noite (e mesmo assim, na maioria das vezes é sopa). Ou seja, não há grandes refeições, e nem horário fixo para elas. A maioria das pessoas trabalha em horários corridos e faz pequenas pausas, diferente de nós que dividimos o dia em turnos com pausas de uma hora, ou uma hora e meia. E é comum cada um levar o seu próprio lanche para onde for.
Claro que não é totalmente universal e muitas coisas não encontramos no mercado, e outras são inviáveis - carne e fruta, por exemplo, são comidas de rico. Um bife de gado custa 10 dólares, e um mamão papaia pequeno chega a custar 4,97. Em compensação sementes e frutas desidratadas são muito baratas, assim como 'snacks' (utilizados em lanches), tipo batata frita, ou produtos de padaria, como pão, muffin e croissant. Trouxe do Brasil leite condensado, que sabia que o daqui não era da mesma qualidade, e erva mate. Estou ostentando ambos aqui: uma lata de leite condensado custa 5 dólares, e não é tão concentrado como o nosso. Erva mate nem preciso dizer, né!? Impossível encontrar, assim como guaraná e fandangos.
Existem muitos cafés pela cidade, como Tim Hortons (mais conhecido como Timmy's), McDonalds e Starbucks, e por toda a cidade encontramos pessoas com copos de café ou chá na mão, comprados ou trazidos de casa. Mas tem um detalhe: o copo é gigante! O dobro do que estamos acostumados no Brasil. Esses dias fui procurar um copo de chá e não encontrei menor do que 500ml (para ter ideia, um copo americano comporta 250ml). O café daqui é mais fraco que o nosso e os cafés flavorizados (com sabor, como capuccino ou french vanilla) são muito populares. Os chás são bem concentrados, de qualidade, mas caros (Twinings, que é café chique no Brasil, é o mais barato daqui). Outra coisa interessante é que existem casas de chá, especializadas em vender chá in natura - com os ingredientes desidratados, mas não em saquinhos. E como são caros!
Bebidas alcoolicas são vendidas em lojas especializadas, e só é permitido consumí-las dentro de bares ou em dentro casa. Você não pode consumir cerveja fora de casa, mas pode colocá-las para gelar lá (é mais eficiente que a geladeira!). E menores de 19 anos não podem em hipótese alguma consumir bebida alcoolica em bares - não existe o "jeitinho brasileiro" de um maior de idade comprar e o menor consumir, pois se acotecer isso, ambos são expulsos do bar.
Nas praças de alimentação dos shoppings o cardápio é o mesmo durante todo o dia, e não encontramos buffets de comida como os nossos. Há somente lanches, e até o cachorro quente é diferente. O atendente entraga um pão com salsicha e você se serve de condimentos como quiser.  
Outra curiosidade são os tamanhos das embalagens: o 'padrão' é o nosso 'tamanho família', e é sempre bem mais vantajoso comprar em grandes quantidades. Vejam alguns exemplos dos exageros:
(muffins são bem populares, e consideravelmente baratos - este custou 4 dólares)
As "berries", como blueberry, cramberry e blackberry, são razoalvemente baratas e compõem muitas receitas culinárias daqui, como panquecas e bolos. 
Croissants também são populares. Esta embalagem vinha com 6 e custou 3 dólares.
Sementes, de tão populares, vem em pacotes enormes. Este custou 4 dólares. 

Iogurtes costumam vir com 12 potinhos. Este é sem lactose e sem açúcar e custou 5 dólares.

Há muitas opções de leite - integral, desnatado com várias porcentagens de gordura, flavorizado... Este é o que costumamos comprar, que é o comum, e custa por volta de 5 dólares.

Batata frita é a atração principal dos mercados. Tem de todos os sabores que se possa imaginar, e  existem molhos prontos, também de vários sabores, para todos os gostos e ocasiões. Esta custou 97 centavos.
Entre as curiosidades, está este snack que eu me apaixonei - cranberries envoltas em chocolate! Elas tem um sabor peculiar, muuuuuuuuuuuuuuito doce, mas viciante. Custa 4 dólares, o que eu acho um pouco caro, mas como não dá para comer muitas sem enjoar, acaba compensando.

Refrigerante não tem muita opção - basicamente coca (ou pepsi), fanta, sprite e este, que é sabor nacional, como nosso guaraná, mas feito com gengibre. Me parece bem semelhante ao gosto do guaraná, porém mais ácido. Muito bom!  

Também encontramos no mercado muitos pratos pré prontos, como mix de saladas e legumes, pratos congelados e este, que para mim foi o mais curioso - batatas prontas para assar. É só envolver as batatas no papel alumínio, mas por algum motivo, tem gente que prefere já comprar pronto.

Os lanches mais comuns daqui também merecem registro:



A cerveja é servida assim nos bares, ou em jarras (é cerveja, não chopp!):

E, para finalizar, um almoço brasileiro porque nós também somos filhos de Deus:
(o problema é que este prato tão simples no Brasil custa muito aqui, e só dá pra comer em ocasiões especiais, como hoje, que é meu aniversário!)

Assim que for conhecendo mais peculiaridades vou postando aqui para compartilhar com vocês. E se vocês tiverem curiosidades sobre as comidas daqui, como a forma como elas são encontradas ou preços, podem me perguntar que investigo! 

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Sobre o frio de renguear cusco

É tão engraçado ver o susto das pessoas quando eu falo da temperatura aqui. Mas também, com 40 graus do Brasil... Frio é inimaginável mesmo!
Eu venho do Rio Grande do Sul, acostumada a enfrentar o minuano gelado desde pequena. Porém, tenho que confessar que não conhecia frio de verdade... Nosso minuano é fichinha!!
Aqui não tem como sair na rua se não estiver completamente agasalhado. Dois minutos fora de casa sem luva e cadê minha mão que não sinto mais? É insano!
Em contrapartida, aqui não sinto frio. O país é projetado para se abrigar do frio em qualquer lugar. As roupas são cheias de tecnologia, projetadas para proteger do frio em qualquer circunstância. As casas são feitas com o mesmo propósito, e não há lugar que não tenha calefação. Geralmente há duas portas, para garantir que a calefação seja eficiente e o frio não incomode. Dentro de casa, não preciso mais que um moletom (e olha lá!). Roupa de lã tem pouca utilidade, mas meias e mantas e luvas são essenciais. Mas claro que não fico na rua mais do que o necessário. Caso contrário, meu relato seria outro.
Para sair na rua é uma novela. Chega na porta, coloca casaco, bota, luva, touca, manta... Fecha bem o casaco... Pronto, pode ir! Ao chegar no outro lugar, o contrário: tira casaco, luva, touca, bota (entrar em casa de bota é falha gravíssima aqui!). Ao voltar para casa, mesma rotina. Confesso que incomoda um pouco, e antes de sair de casa tem que pensar várias vezes se é realmente necessário em função dessa trabalheira. A ocilação de temperatura também é um pouco chata, mas poder ficar confortável dentro de casa compensa qualquer coisa. As roupas de frio não são baratas, mas um casaco e uma bota são suficientes para todo o inverno, e o resto a gente resolve no aliexpress.
As pessoas me perguntam como é no Brasil, e quando conto que não existe calefação eles simplesmente não entendem. De fato, ter que usar muita roupa dentro de casa (e continuar sentindo frio) não parece fazer sentido. Só o preço da conta de luz explica isso. Por isso, entendo meu paradoxo de nunca ter enfrentado frio tão grande, mas sem de fato passar frio. 
A neve é um espetáculo (e incômodo) à parte. É engraçado como o clima funciona. Uns dias antes de nevar faz um frio absurdo, com temperaturas em -16 graus e sensação térmica beirando -30. O dia em que neva esquenta, e a temperatura sobe para 0 graus, e geralmente fica positiva durante o dia. A sensação térmica é bem mais confortável também. É tão lindo quando neva... Tudo branquinho... Tão branquinho que nem se distingue onde é calçada, onde é rua, onde é água... Aí começam os transtornos. Passa a maquineta de tirar a neve largando sal. A neve derrete, vira uma aguaceira. Dessa água, vira barro misturado com sal, que detona as botas. O aspecto da cidade fica sujo, lamacento. Aí esfria, e o que sobrou de neve vira um imenso bloco de gelo. A temperatura despenca, a cidade fica limpa novamente. Então o clima muda e neva. Tudo de novo... Mas quanto a isso vale a mesma proteção contra o frio: tendo um bom casaco (impermeável) e uma boa bota (impermeável e com ótimas garradeiras, que é essencial), isso deixa de ser um transtorno. 
Resumo da ópera: sinto menos frio no inverno daqui com -30° e muita neve do que no Rio Grande do Sul com dias entre 0° e 10°, que é nosso  padrão. Só sinto falta da geada, que transforma as paisagens nos amanheceres de inverno em quadros de tirar o fôlego de tão lindos. Nossa geada cria pequenos flocos de gelo na vegetação, que continua bem verde mesmo no inverno. Aqui o gelo é tanto que aparece em placas enormes, e não em flocos, não tendo esse encanto, e a natureza perde a cor, transformando tudo em escala de cinza. 

Visto canadense

Participo de muitos grupos de brasileiros no exterior e percebi que a maior dúvida é quanto ao visto. Por isso, resolvi partilhar como foi o processo para retirada do meu e o que aprendi até aqui. Em todos eles é necessário comprovar um montante em dinheiro, que dependerá do tipo do visto e do tempo de permanência no país. Essa parece ser a parte que mais gera dúvidas, mas não é tão confuso quanto parece. É possível comprovar com extrato da conta bancária, com bens ou com a carta de algum patrocinador. Um documento de apoio interessante é seu contracheque, que não comprova montante acumulado, como uma poupança, mas mostra que você tem sustento. No meu caso ajudou bastante, até porque eu era funcionária pública e isso ajuda no processo (assim como comprovar cnpj, no caso de empresários), pois é visto como uma "garantia" que você vai retornar ao país de origem e não vai querer ficar ilegal depois do fim do visto. Não é obrigatório, mas ajuda no processo.
Há basicamente quatro tipos de visto, e várias subdivisões.

VISITANTE
Este tipo de visto é temporário e utilizado para turistas ou acompanhantes de alguém que imigrou, vai trabalhar ou estudar no país. Ele dá direito à estadia no país, mas sem permissão para trabalho ou estudo. Ou seja, você pode ficar aqui, passear, frequentar grupos comunitários gratuitos e fazer voluntariado, mas não pode estar regularmente matriculado em alguma instituição de estudo, tampouco exercer atividade remunerada legalmente.

ESTUDANTE
Este tipo dá direito a estar matriculado regularmente em instituições de ensino e trabalhar em atividades "on campus", ou seja, dentro da instituição onde você estuda, "co-op", que é o equivalente a estagiário. Podem ser atividades remuneradas, mas desde que estejam de acordo com a área de estudo desdenvolvida no país.

TRABALHADOR
Este visto dá direito a trabalhar em vagas formais de emprego no país, com todos os direitos trabalhistas. Este visto pode ser de três formas básicas:

* Trabalho aberto: é permitido trabalhar para qualquer vaga que você seja qualificado (cuidado aqui! não necessariamente você pode trabalhar onde tem formação acadêmica. Veja no trabalho qualificado) e em qualquer empresa ou governo canadense.

* Visto com oferta de trabalho: neste caso, o visto fica vinculado ao trabalho para o qual você foi contratado. É necessário ter uma oferta válida de emprego, e o visto dura o tempo em que você estiver trabalhando naquele local. Caso ocorra a perda de emprego, o visto perde a validade e você precisa sair do país. É o mais confortável para a chegada no país, mas também o mais instável. A empresa também precisa comprovar ao governo que não há outro cidadão canadense apto a realizar este tipo de trabalho. Caso contrário, não é possível a contratação de estrangeiro. Sendo assim, esse tipo de visto geralmente é para trabalhadores muito qualificados, e é o mais difícil de conseguir.

* Trabalhador qualificado: este visto dá direito a trabalhar na sua profissão de formação. Porém, além de ter este tipo de visto, para algumas profissões (quase todas) também é necessário validar o diploma (que é um processo caro e demorado) e, se necessário, registrar-se no conselho de classe correspondente. Assim, você pode obter um visto de trabalhador qualificado e demorar para conseguir se adequar à legislação e realmente trabalhar no que se qualificou. É o tipo mais frustrante.

O visto de trabalho não dá direito a matrícula em instituição de ensino, nem curso profissionalizante.

O Brasil acaba de firmar convênio com o Canadá, e o tempo de trabalho formal aqui conta para a aposentadoria no Brasil, o que é bem interessante! Para trabalhar aqui, além do visto de trabalho, é preciso fazer um número de seguro social (equivalente ao nosso INSS), pois o empregador precisa contribuir com a previdência, no mesmo sistema brasileiro.

Desde o ano passado há um novo tipo de visto, que é de trabalho e estudo. Nesse caso, você fica habilitado a trabalhar em qualquer local formalmente e também estudar regularmente, mas o trabalho precisa ser limitado a até 20h semanais.

IMIGRANTE
Também chamado de "Residente permanente" ou "PR", este visto é vitalício e dá direito a ficar no país, trabalhar e estudar no que quiser, além de dar direito ao acesso a saúde pública. É um processo muito longo e demorado, geralmente durando mais de 2 anos, e com muuuuuitas comprovações. A notícia boa é que o Canadá é um país de imigrantes e está cada vez mais fácil de conseguir este visto. Porém, ele segue caro e demorado. Para aplicar para este visto, é necessário ter IELTS General (prova de proficiência em inglês) com escore mínimo de 6 em cada prova. Os outros tipos de visto não exigem este teste, mas universidades geralmente exigem ter ou o IELTS Academic ou o TOEFL Ibt para garantir a vaga. E se você for fazer algum destes testes, cuidado com as classificações, pois há mais de um tipo!

Depois de ter o visto de residente permanente e estar a no mínimo 3 anos corridos em território canadense, é possível aplicar para a cidadania. Trata-se de algumas provas de proficiência na língua e conhecimentos históricos que, se você atingir a pontuação mínima, ganha dupla cidadania - brasileira e canadense. Nesse caso, você pode ter passaporte canadense e passa a ter direito à voto e todos os benefícios sociais de um canadense nato.

O Canadá tem aberto muitas vagas de imigração a trabalhadores qualificados, mas é necessário atenção. Se a sua profissão está nas prioritárias, o processo torna-se mais fácil, mas não lhe dá direito a trabalhar na área de formação. Encaixa-se na mesma situação do trabalhador qualificado - você tem permissão, mas precisa validar diploma e increver-se em conselho de classe quando necessário.

SOBRE O MEU VISTO

Cada caso precisa ser pensado e pesquisado nas suas especificidades. No meu caso, foi solicitado um visto familiar. Meu noivo solicitou visto para realizar parte da pesquisa de doutorado dele no país e, por não assistir nenhuma aula e não estar regularmente matriculado no curso integral, foi concedido visto de trabalho. Aqui pesquisa é considerado trabalho, e não estudo, como é no Brasil. Se fosse o doutorado integral com aulas, o visto deveria ser de estudo. Para o visto dele foi preciso comprovar o aceite da universidade e a bolsa brasileira. O meu visto foi solicitado como familiar para poder acompanhá-lo na permanência dele no país, e foi concedido como trabalho aberto, mas vinculado à permanência dele no país. Como a bolsa dele é do ciência sem fronteiras e é exigência do programa retornar ao Brasil no período determinado, eu preciso deixar o Canadá junto com ele. Para permanecer, precisarei solicitar um novo visto, desvinculado, que pode ser solicitado ainda em solo canadense. Para conseguir o visto, eu precisei comprovar união estável com ele e quantia em dinheiro, que foi menor do que se eu estivesse solicitando sozinha, pois considera-se a bolsa dele como renda familiar. Não me lembro quanto foi solicitado nem quanto comprovei, mas coloquei tudo o que tinha direito: extrato, carro, contracheque e carta custeio do meu pai. O que eles consideraram eu não sei, mas deu certo! O meu visto foi um pouco mais demorado que o do Carson porque eles pediram documentos adicionais, mas não teve complicação. Nós contratamos uma empresa especializada em vistos (Sul Vistos, de Porto Alegre) por medo de fazer algo errado e complicar ou demorar demais o processo. Eles cobraram cerca de 200 reais para isso, então consideramos o valor razoável e mais barato do que errar o processo e ter que iniciar novamente. Também tivemos a facilidade de não precisar ir até o consulado (Brasília, Rio de Janeiro ou São Paulo) para entrevista e entrega de documentação. Foi solicitado perícia médica, mas por sorte havia um médico e laboratório em Porto Alegre. A perícia incluiu consulta médica para anamnese, exames de sangue e raio x do pulmão. Pelo que entendi, eles investigam se há alguma doença contagiosa, provavelmente aquelas que já devem estar controladas no país ou que custam muito à saúde pública daqui.
Nós solicitamos o visto por um ano, e o documento de entrada no país nos deu direito a permanecer aqui até 15 de janeiro de 2016. O visto é de múltipla entrada, mas este documento não. Quer dizer que minha entrada aprovada pela imigração desta vez e eu posso permanecer até esta data, mas se eu precisar sair do país e voltar (mesmo que seja só na fronteira dos EUA), vou precisar passar pela imigração novamente. Claro que já tenho o visto, mas preciso de uma boa justificativa para regressar. Mais fácil ficar aqui o ano todo.

Este é um resumo de todo o processo. Não é tão simples, mas também não é complicado. O processo pode ser iniciado pela internet, e maiores informações são obtidas neste site, do governo canadense (o site é em português). Se alguém se interessar pela empresa do visto, este é o site deles. E qualquer outra dúvida, pode entrar em contato comigo que faço o possível para ajudar.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

#SomosTodosGordinhos

Pouco tempo antes de completar meu primeiro mês em terras canadenses tenho que confessar que ainda estou mais presente no Brasil do que aqui. Minha timeline do facebook é repleta de notícias brasileiras, meu celular ainda não aprendeu que mudou de fuso horário e localização e por vezes me vejo abrindo a previsão do tempo de Santa Maria e não de Halifax (e levo cada susto...). Essa semana uma polêmica brasileira mexeu bastante comigo. Uma reportagem infeliz do polêmico R7 sobre o corpo da Fernanda Gentil (que ao meu ver é lindo) me fez reviver meu último ano no Brasil. Passei por uma grande crise de stress no trabalho e engordei 20 kg em 6 meses. Não aguentava mais me parabenizarem pela gravidez (imaginária)... Gravidez?? Que gravidez?? Só se eu estiver esperando um hamburger... Eu me assustava em ver como as pessoas são invasivas no corpo alheio. E olha que muitas que me perguntavam estavam bem longe da boa forma! A questão é que hoje está liberado ser fiscal do corpo alheio. Eu mesma me vi obcecada em emagrecer, curtindo dietas e procurando por exercícios físicos que só detonavam mais ainda meu corpo. Parecia que era isso que eu tinha que fazer, até entender que essa doideira toda não era minha. Eu não estava (e continuo assim) incomodada com meu sobrepeso, mas sim com as coisas erradas que via no trabalho, a ingratidão e insensibilidade de pessoas próximas e a necessidade de rever minha carreira e o rumo para onde minha vida estava indo. Isso sim me tirava o sono, não meus pneuzinhos e celulites. Mas as pessoas insistiam em me humilhar e dizer que eu tinha que emagrecer. Aqui já ouvi isso, mas foi de outra brasileira. Nenhum canadense se assustou com meu peso, mas muitos já elogiaram meu rosto e currículo. E é sobre isso que quero falar. Não estou interessada em debater meus quilos extras, mas o que aconteceu durante a aquisição deles. Foram 20 quilos, um mestrado, um visto canadense, amigos sinceros, duas novas possibilidades de carreira, e o principal: sobrevivi a uma política corrupta e suja, sem me corromper e mantendo meus ideias, moral e o que acreditava ser o caminho certo, tanto para mim quanto aos meus pacientes e ao povo que pagava meu salário. Isso sim tem peso, e um peso muito maior que meus 20 quilos extras. Se um dia eu perdê-los, vai ser por um processo natural, e não por dietas loucas e exercícios frenéticos que me faziam perder a saúde e me renderam muitos desmaios. Porque eu não sou meu sobrepeso, eu sou psicóloga, mestre, fui servidora pública e hoje sou uma brasileira aventureira em terras canadenses. Eu sou meus ideais, eu sou meus sonhos, eu sou o caminho que trilho. E compartilho com a visão  canadense: não me interessa como tu te apresenta, e sim quem tu é e em que tu contribui socialmente. Essa leveza, simples assim. E só.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Gentileza gera gentileza

Depois da fase inicial de euforia, de querer conhecer todas as novidades daqui, entro em uma nova fase de poder, com o distanciamento, repensar meu país, suas qualidades e defeitos. No Brasil eu tinha uma vida muito estressante, e sei que isso influencia nas comparações, até porque saí de lá com muita raiva das injustiças que somos obrigados a conviver diariamente. Mas cheguei a uma conclusão que acredito estar além da minha mágoa. Temos fama de ser um povo preguiçoso e com o famoso "jeitinho brasileiro", de fazer as coisas da forma mais fácil. Mas na verdade acredito que somos um povo estressado. Isso mesmo, estressado. O trânsito é um caos, as estruturas familiares estão se modificando, há sobrecarga de trabalho e de cobrança, a violência é absurda (consequentemente, há o medo constante de que aconteça algum crime), a impunidade é grande, o governo não nos dá o devido retorno de impostos, pagamos taxas e preços absurdos por produtos e serviços e é difícil confiar em alguém. Como não ser estressado????
Ok, preciso admitir que tem muita gente folgada no país, mas para cada folgado, quantos outros são sobrecarregados? O Brasil é um país livre e pacífico, mas o povo não tem direito a usufruir disso. É uma minoria muito pequena que se cerca de privilégios. Não vamos ser ingênuos de que aquele funcionário que não faz nada durante o dia está feliz, porque viver com os salários da maior parte da população não é tarefa fácil. E como ele é com sua família e amigos? Ele tem família e amigos? Nosso julgamento por vezes é muito hipócrita em função da raiva que temos de tanta injustiça.
Nesse tempo que estou aqui aprendi mais sobre a nossa cultura do que a canadense, e confesso que não gostei muito do que vi. Eu mesma por vezes fui muito injusta e não me orgulho de muitos comportamentos que tinha aí e nem percebia. Talvez seja essa a maior riqueza de um intercâmbio. Quantas campanhas temos de "gentileza gera gentileza"? Um povo gentil não precisa se educar para isso porque é assim naturalmente. Aqui as pessoas pedem "com licença" e mantêm a porta aberta para o próximo que irá entrar no local. Alguém faz isso e naturalmente as outras pessoas também o fazem. Todos agradecem ao motorista do ônibus e andam nas calçadas de forma a não atrapalhar quem vem atrás. É invuluntário, e muito mais agradável. São pequenos gestos, mas que nos fazem chegar em casa bem, sem aquele peso ou cansaço exagerado. E não adianta ficar esperando para que o outro comece. É uma corrente de exemplos, que começa comigo. É muito mais fácil viver assim, acreditem! As coisas fluem de uma forma bem mais saudável e natural.
Vi um vídeo esses dias que exemplifica bem como as coisas funcionam (detalhe: elas realmente funcionam!), e gostaria de trazê-lo para exemplificar como é o cotidiano daqui, e frizar como ele de fato funciona bem. Não sei ao certo quem o fez e por qual motivo, mas é bem interessante pensar nisso.


segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Trevo de quatro folhas

Santa Maria, 12 de janeiro de 2011.

Hoje é o dia da minha formatura. Quanta emoção! O investimento de toda uma vida de estudos se concretiza em um diploma que, de tão sofrido, merece moldura na parede. Pensando bem, melhor não... Vai que estrague, ou alguém roube! Não quero arriscar... Ele é único e precioso! Vou deixar bem guardado e só usar quando solicitarem, afinal, vou precisar muito dele! Até porque como psicóloga terei muitas oportunidades, e vou poder ser aquela profissional competente para o qual tanto me preparei. As pessoas vão me repeitar como profissional e eu sei que vou poder ajudar muita gente. Vou ser uma psicóloga renomada, dedicada e, principalmente, realizada! Se tudo der certo, também serei funcionária pública para poder retribuir à sociedade, colocando os conhecimentos que adquiri em uma universidade pública para o bem de quem pagou impostos para que ela exista. Nem posso acreditar... É um sonho que se torna realidade! É o dia mais feliz da minha vida!!

Halifax, 12 de janeiro de 2015.

Exatos quatro anos se passaram desde que tornei-me psicóloga. Parece tão pouco... Só o início de uma vida profissional. Pude dedicar 3 anos e meio ao serviço público, e me considero grata por isso. Foram anos de luta, vitórias e derrotas. Encontrei ótimas amizades, mas infelizmente conheci o peso da politicagem da pior forma possível. Tive uma oportunidade incrível de fazer mestrado na mesma universidade pública que estudei. Que dias emocionantes aqueles! Era felicidade, angústia, frustração e amizade, tudo junto e misturado. Que sorte a minha de ter tido aquelas colegas! E quanto orgulho daquele diploma! E o doutorado? Não, espera... Será que eu quero mesmo ser psicóloga? Isto está me fazendo feliz? Será que eu ainda quero ser funcionária pública? Vale a pena todo o desgaste e perseguição para poder fazer um trabalho digno? Digno? E o estresse? E aqueles que se dizem chefes mas não sabem o que significa essa palavra? Será que estou fazendo bem a meus pacientes? Eles estão gostando do meu trabalho? Melhor procurar outro local para que eu possa seguir contribuindo de uma forma saudável. Mas onde? Quem contrata psicólogo sem qi? E eu tenho qi? Opa, surgiu a oportunidade de ir para o Canadá. Lá sim, um país de primeiro mundo... Quem sabe eu dou um tempo nessa frustrada e frustrante carreira. Psicóloga eu nunca vou deixar de ser, está na alma, e não no diploma. Vou arejar as ideias e voltar fresca, porque agora, no Brasil, psicóloga não quero mais ser. Quem sabe em lugar algum vou querer. Ou será que isso foi só um pesadelo e existe um outro capítulo de Alice em que poderei retomar os sonhos da jovem psicóloga e de fato fazer a diferença?

domingo, 11 de janeiro de 2015

Florestas no inverno

As florestas ficam lindas no inverno, e eu posso provar! Este post dedico somente às redondezas da minha atual casa. Aos poucos vou incrementando com outros lugares tão lindos quantos, senão até mais.
















sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Halifax Regional Library

Halifax é uma cidade cultura em toda a sua prática e teoria. Há muitos lugares dedicados à contar a história da cidade, do país e do atlântico, como museus, bibliotecas, e até os cemitérios trazem a história das catástrofes e são pontos turísticos. Já falei sobre o museu da história marítima do atlântico aqui, e hoje vou falar da mais nova atração turística/social, que é a biblioteca central. Ela, assim como o museu, não é apenas uma coleção de fatos e materiais históricos, mas um convite para mergulhar em outros mundos. Não tem como estar no prédio sem se sentir dentro de uma máquina do tempo, levando a outros momentos e realidades. Trago fotos para ilustrar este cubo de vidro mágico:



Há sofás e mesas espalhados por toda a biblioteca, em todos os andares e desde a entrada, para acomodar a quem quiser ler, estudar, navegar na internet, fazer encontros ou reuniões, ou simplesmente ficar por aí, um tempinho... (esses dias vi pessoas dormindo nos sofás depois do almoço, acreditem!):




Há também dois cafés, um no térreo e outro no último andar, para quem quiser lanchar ou somente tomar alguma bebida quente, tão necessária para a sobrevivência no inverno daqui:



Há um espaço dedicado só para crianças, com exibição de vídeos e filmes infantis e literatura separada por faixa etária:



A pesquisa no acervo é feita em totens digitais também espalhados por toda a biblioteca:

Quase todas as paredes são de vidro, onde se tem visões paronâmicas do centro da cidade e em vários ângulos:



Todo o prédio é muito bem sinalizado, e em todos os andares, no elevador, encontra-se esta placa, indicando o que há em cada lugar e onde você está:


Além de livros impressos, há também versões digitais que podem ser acessadas nos computadores da biblioteca e uma grande coleção de dvd's de filmes e cd's clássicos da música nacional e internacional, disponível a todos os associados:


Também há bolhas para quem quer se concentrar sem interferências visuais ou auditivas externas:



Em todos os andares há computadores para pesquisa interna na biblioteca e navegação em toda a rede (toda mesmo, não há restrições, como no Brasil. Se você quiser ficar o dia inteiro logado no facebook, ninguém vai te impedir disso):


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Os livros são divididos por categorias, e nem mesmo os canadenses conseguem separar auto ajuda de psicologia (mas ainda tenho esperança que alguma alma evoluída entenda isso): 


A vista mais bonita é a do último andar:


Este ângulo é o mais privilegiado, onde pode-se visualizar de camarote o Citadel, maior ponto turístico da cidade e destaque em vistas aéreas. Trata-se de um antigo forte, muito importante no surgimento da cidade e nas guerras (quando for visitar faço um post exclusivo disso, mas ainda está muito frio para fazer turismo outdoor): 




Também há uma vista maravilhosa do porto:



Há um terraço com vista panorâmica para o porto, mas em dias de neve ele fica fechado:




Tenho passado boa parte dos meus dias nesta biblioteca, apesar de ter outra muito perto de casa. Mas esta é algo incrível, e como os nativos dizem, algo inovador até para Halifax. Muito aconchegante e convidativo!