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sábado, 21 de fevereiro de 2015

Sobre a desglamourização da vida no exterior

Li alguns textos de brasileiros que moram no exterior falando da "desglamourização" da vida aqui. Segundo eles, para quem está no Brasil viver fora é só glamou, mas não é pela necessidade de ter que fazer suas próprias tarefas - limpar a casa, lavar roupa, fazer as unhas... Pois bem, quero expor minha opinião sobre isso.
Ainda temos muitos resquícios da época da escravidão no Brasil. Socialmente é tido como "feio" ou "impróprio" limpar a própria sujeira, lavar a própria roupa ou fazer a unha ou cabelo em casa. São "subfunções" que quem tem um pouco de "grau" na sociedade não deve fazer. É feio, inclusive, comprar papel higiênico. Por isso existem pessoas, geralmente da periferia, que se dedicam a fazer isso por um preço nada justo. E essa é a mesma origem da ideia de que cotas nas universidades não são necessárias pois "o filho da empregada não pode compartilhar a mesma instituição do filho do patrão". Infelizmente nossa luta histórica está apenas começando.
Coloco essas palavras entre aspas pois não concordo com elas. O que te faz menos humano ou menos "importante" (se é que a pessoa em questão é realmente "importante") ao fazer suas próprias tarefas pessoais e de casa? Que glamou é esse? Que status social é este imposto por uma elite? E quem faz isso é realmente "de elite"?
A ideia praticada nos países e sociedades desenvolvidas é que a sua sujeira e suas rotinas de limpeza e beleza são suas responsabilidades, não de outras pessoas. E aqui, toda mão de obra é valorizada.
Isso quer dizer que não existem faxineiras e manicures?
Existem, sim, pois aqui também existem pessoas super atarefadas que não tem tempo para isso (questão de tempo, não de status!). Mas é um serviço muito caro - o valor da hora de trabalho de uma faxineira chega a custar 17 dólares, quando o mínimo praticado no comércio é 10.
O que te impede de pegar uma vassoura e limpar o que sujou, ou mesmo colocar as roupas na máquina de lavar? Não vejo isso como "desglamourização", e sim como responsabilidade. Nunca tive faxineira, nunca fui em uma manicure, eu que lavo minhas roupas e louças sujas e tiro o mofo das paredes. E isso nunca me incomodou. É cansativo? Sim, é. Mas não depreciativo. Compro meu papel higiênico porque preciso dele (e quem não?), e não tenho vergonha de sair do supermercado com ele na mão. É uma questão de lógica.
Viver no primeiro mundo é ter direitos e deveres, responsabilidades e compensações. Se quiser fazer alguma coisa, aprenda e faça você mesmo. Se quiser curtir a tarde em um parque, vá - é seguro. Se quiser alguma coisa, trabalhe e compre, pois o poder de compra daqui é muito bom. Quer trabalhar? Não precisa ser um CEO ou diretor de empresa para ser respeitado - todo trabalhador é. Trabalho aqui não é status, pois todo ser humano é humano e respeitado (a não ser que não faça por merecer). Este é o estilo de vida do primeiro mundo - e não se trata de ter ou não glamou, mas de ser justo.





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