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quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Com corrupção e altos impostos, o Canadá segue cada vez mais evoluído

Não, o título não está errado - essa é a visão e o discurso do povo canadense. Antes de me atirar pedras, leia o texto!
Voltando de um curso sobre saúde mental hoje, que estou fazendo gratuitamente através de um órgão do governo, fiquei divagando sobre as condições políticas e econômicas do Canadá. Confesso que ainda não tinha feito isso de forma crítica, talvez por falta de um insight apropriado.
O imposto sobre produtos na Nova Scotia é o maior do país, sendo de 15% em qualquer item comprado - comida e remédio são isentos. Não sei ao certo como funciona o imposto de renda aqui e qual é a porcentagem, mas ele vem descontado no salário e existe declaração, como no Brasil. Empresas também pagam impostos, mas o custo e a burocracia para manter uma empresa aqui é menor. E assim se faz boa parte da arrecadação do governo. Os nativos reclamam que as taxas são muito altas e o retorno é muito pequeno. Pois bem, sou brasileira e entendo bem dessa questão...
A saúde pública daqui é de qualidade, mesmo que acessível somente a cidadãos e residentes permanentes. Educação é basicamente por conta do governo, que é responsável até a faculdade, onde passa a ser paga. As ruas são limpas (a não ser pela neve, que não tem jeito, suja tudo), há segurança de altíssima qualidade e serviços exclusivos para idosos, que são amparados de forma bem interessante pelo governo. Se não bastasse, a vida cultural é de tirar o chapéu, com eventos sazonais, parques públicos que podem ser frequentados com segurança, pista de patinação no gelo com equipamento de aluguel gratuito, festivais, e, claro, as bibliotecas - uma em cada região da cidade, muito bem equipadas, com livros novos, revistas, cds e dvs (falo sobre isso aqui) e projetos gratuitos a perder de vista, com os mais variados temas e públicos, que vão desde aulas de yoga e zumba até oficinas de tricô. Ainda existem centros especializados em prestar consultoria a quem busca emprego. Tudo isso (e muitas outras coisas que nem descobri ainda) mantido pelo dinheiro dos impostos. Mas para o povo canadense, esse retorno é pequeno. Eles julgam que os serviços devem ser de melhor qualidade e maior variedade. Para eles, não é o padrão ideal - isso porque o padrão deles é realmente muito alto. Existem, sim, regiões do país que estão melhores em alguns aspectos, e é nisso que eles se baseiam. Afinal, se pagam impostos e mantêm um governo é para ter um retorno à altura, não?
Por exemplo, hoje pela manhã encontrei uma senhora na parada de ônibus reclamando das calçadas (que estão realmente intransitáveis em função da canada de gelo sobre elas). Ela dizia: "pagamos impostos para ter a cidade em plenas condições de uso. O mínimo que o governo deve fazer é certificar-se que está assim". E, ainda, disse que já reclamou para a administração municipal e estadual sobre isso.
Além disso, o pessoal aqui reclama que o governo é corrupto e rouba muita grana. Imagina se não fosse... Se perguntarmos como é a política para um canadense, ele vai citar os mesmos problemas que temos no Brasil - e mesmo assim tudo funciona.

Qual é a fórmula, então?

A meu ver, o segredo do Canadá é simples: educação. O povo é educado, e por isso tudo funciona bem e em efeito cascata. Temos uma campanha no Brasil que tenta ensinar isso: gentileza gera gentileza. Esse é o "jeitinho canadense". E, apesar de tudo, o governo não faz o que quer - a consciência e participação política parece maior, assim como a cobrança aos governantes. É exatamente isso que precisamos neste momento no Brasil. Já conseguimos provar que a força do povo gera conquistas, como o movimento pela derrubada da ditadura, o fora Collor e os protestos do ano passado, massacrados pela mídia. Cadê a manifestação "de um povo heroico o brado retumbante"? Se ficar só nos versos do hino, não iremos para frente mesmo. E trocar de país não deveria ser a única opção para quem busca uma vida melhor e mais justa, apesar de no momento ser.

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