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segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Trevo de quatro folhas

Santa Maria, 12 de janeiro de 2011.

Hoje é o dia da minha formatura. Quanta emoção! O investimento de toda uma vida de estudos se concretiza em um diploma que, de tão sofrido, merece moldura na parede. Pensando bem, melhor não... Vai que estrague, ou alguém roube! Não quero arriscar... Ele é único e precioso! Vou deixar bem guardado e só usar quando solicitarem, afinal, vou precisar muito dele! Até porque como psicóloga terei muitas oportunidades, e vou poder ser aquela profissional competente para o qual tanto me preparei. As pessoas vão me repeitar como profissional e eu sei que vou poder ajudar muita gente. Vou ser uma psicóloga renomada, dedicada e, principalmente, realizada! Se tudo der certo, também serei funcionária pública para poder retribuir à sociedade, colocando os conhecimentos que adquiri em uma universidade pública para o bem de quem pagou impostos para que ela exista. Nem posso acreditar... É um sonho que se torna realidade! É o dia mais feliz da minha vida!!

Halifax, 12 de janeiro de 2015.

Exatos quatro anos se passaram desde que tornei-me psicóloga. Parece tão pouco... Só o início de uma vida profissional. Pude dedicar 3 anos e meio ao serviço público, e me considero grata por isso. Foram anos de luta, vitórias e derrotas. Encontrei ótimas amizades, mas infelizmente conheci o peso da politicagem da pior forma possível. Tive uma oportunidade incrível de fazer mestrado na mesma universidade pública que estudei. Que dias emocionantes aqueles! Era felicidade, angústia, frustração e amizade, tudo junto e misturado. Que sorte a minha de ter tido aquelas colegas! E quanto orgulho daquele diploma! E o doutorado? Não, espera... Será que eu quero mesmo ser psicóloga? Isto está me fazendo feliz? Será que eu ainda quero ser funcionária pública? Vale a pena todo o desgaste e perseguição para poder fazer um trabalho digno? Digno? E o estresse? E aqueles que se dizem chefes mas não sabem o que significa essa palavra? Será que estou fazendo bem a meus pacientes? Eles estão gostando do meu trabalho? Melhor procurar outro local para que eu possa seguir contribuindo de uma forma saudável. Mas onde? Quem contrata psicólogo sem qi? E eu tenho qi? Opa, surgiu a oportunidade de ir para o Canadá. Lá sim, um país de primeiro mundo... Quem sabe eu dou um tempo nessa frustrada e frustrante carreira. Psicóloga eu nunca vou deixar de ser, está na alma, e não no diploma. Vou arejar as ideias e voltar fresca, porque agora, no Brasil, psicóloga não quero mais ser. Quem sabe em lugar algum vou querer. Ou será que isso foi só um pesadelo e existe um outro capítulo de Alice em que poderei retomar os sonhos da jovem psicóloga e de fato fazer a diferença?

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