Hoje foi o primeiro dia em que nos aventuramos sozinhos em meio a neve e chuva. Saímos de casa muito cedo, antes mesmo das maquininhas que tiram a neve das ruas passar, e era quase impossível distinguir onde era rua, onde era calçada, onde era meio fio... Tudo nivelado por 20 cm de neve. Ao longo do dia esquentou e choveu bastante, e a neve da manhã virou um gelo maroto, muito convidativo a um tombo. Por sorte não caímos, mas ensaiamos isso várias vezes.
Com isso entendi um pouco mais sobre as pessoas aqui. São tão pacíficos e hospitaleiros que bom brasileiro desconfia. Mas eles são realmente solidários... Se não forem, muitos não sobrevivem e o país não evolui.
Os serviços começam a funcionar relativamente tarde, cerca de 9h (cada local tem seu horário) e geralmente fazem horário corrido. Sair de casa de manhã cedo é complicado mesmo. Em dias de neve, só fica mais fácil depois que a rua for limpa, e isso não acontece antes das 8h da manhã (com sorte!). E é tanto trabalho para sair de casa, com camadas de roupas, botas, luvas, touca, que só se faz uma vez ao dia. No ônibus, hoje, havia uma menina usando calças de pijama e outra de pantufas. Poucos reparam se a roupa está combinando ou é da moda, o que importa é estar quente o suficiente para não virar um bloco de gelo na rua. Mantendo-se saudável, o resto é frescura.
As condições climáticas são muito adversas. O povo aqui sabe bem o que é passar trabalho desde pequenos. Também aprendem cedo que com ajuda mútua fica um pouco menos difícil viver aqui. Consequentemente, preocupam-se menos com coisas fúteis e mais com o que realmente importa: sobreviver. É algo muito interessante, pois a tendência seria tornar as pessoas frias por dentro também. Mas claro que não posso desvincular o sujeito da sua cultura, e a daqui preza pelo respeito do espaço de cada um. Dessa forma, o trànsito flui sem problemas (a não ser os trazidos pela neve), há índices baixíssimos de violência, o funcionamento da cidade não encontra percalços, exceto os climáticos, e os locais públicos se mantém limpos. Assim, o desenvolvimento geral acontece de forma natural.
Estas coisas que trago não são para menosprezar o Brasil, muito pelo contrário... Me parece uma das melhores formas de aprendizado o exemplo. E vejo que temos muito o que aprender com o povo daqui, pois as coisas realmente funcionam. E se funcionam em um país com condições de sobrevivência humana completamente adversas, porque não funcionariam no nosso rico Brasil, tropical e com ampla variedade de tipos de vida e natureza? Essa é a questão que mais me inquieta e que me move a compartilhar tudo o que tenho aprendido de novo. E tem sido tanto que não caberia em faculdade ou mestrado, apesar de eles terem me preparado para isso. São coisas que só a memória pode guardar.
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