Eu venho do Rio Grande do Sul, acostumada a enfrentar o minuano gelado desde pequena. Porém, tenho que confessar que não conhecia frio de verdade... Nosso minuano é fichinha!!
Aqui não tem como sair na rua se não estiver completamente agasalhado. Dois minutos fora de casa sem luva e cadê minha mão que não sinto mais? É insano!
Em contrapartida, aqui não sinto frio. O país é projetado para se abrigar do frio em qualquer lugar. As roupas são cheias de tecnologia, projetadas para proteger do frio em qualquer circunstância. As casas são feitas com o mesmo propósito, e não há lugar que não tenha calefação. Geralmente há duas portas, para garantir que a calefação seja eficiente e o frio não incomode. Dentro de casa, não preciso mais que um moletom (e olha lá!). Roupa de lã tem pouca utilidade, mas meias e mantas e luvas são essenciais. Mas claro que não fico na rua mais do que o necessário. Caso contrário, meu relato seria outro.
Para sair na rua é uma novela. Chega na porta, coloca casaco, bota, luva, touca, manta... Fecha bem o casaco... Pronto, pode ir! Ao chegar no outro lugar, o contrário: tira casaco, luva, touca, bota (entrar em casa de bota é falha gravíssima aqui!). Ao voltar para casa, mesma rotina. Confesso que incomoda um pouco, e antes de sair de casa tem que pensar várias vezes se é realmente necessário em função dessa trabalheira. A ocilação de temperatura também é um pouco chata, mas poder ficar confortável dentro de casa compensa qualquer coisa. As roupas de frio não são baratas, mas um casaco e uma bota são suficientes para todo o inverno, e o resto a gente resolve no aliexpress.
As pessoas me perguntam como é no Brasil, e quando conto que não existe calefação eles simplesmente não entendem. De fato, ter que usar muita roupa dentro de casa (e continuar sentindo frio) não parece fazer sentido. Só o preço da conta de luz explica isso. Por isso, entendo meu paradoxo de nunca ter enfrentado frio tão grande, mas sem de fato passar frio.
A neve é um espetáculo (e incômodo) à parte. É engraçado como o clima funciona. Uns dias antes de nevar faz um frio absurdo, com temperaturas em -16 graus e sensação térmica beirando -30. O dia em que neva esquenta, e a temperatura sobe para 0 graus, e geralmente fica positiva durante o dia. A sensação térmica é bem mais confortável também. É tão lindo quando neva... Tudo branquinho... Tão branquinho que nem se distingue onde é calçada, onde é rua, onde é água... Aí começam os transtornos. Passa a maquineta de tirar a neve largando sal. A neve derrete, vira uma aguaceira. Dessa água, vira barro misturado com sal, que detona as botas. O aspecto da cidade fica sujo, lamacento. Aí esfria, e o que sobrou de neve vira um imenso bloco de gelo. A temperatura despenca, a cidade fica limpa novamente. Então o clima muda e neva. Tudo de novo... Mas quanto a isso vale a mesma proteção contra o frio: tendo um bom casaco (impermeável) e uma boa bota (impermeável e com ótimas garradeiras, que é essencial), isso deixa de ser um transtorno.
Resumo da ópera: sinto menos frio no inverno daqui com -30° e muita neve do que no Rio Grande do Sul com dias entre 0° e 10°, que é nosso padrão. Só sinto falta da geada, que transforma as paisagens nos amanheceres de inverno em quadros de tirar o fôlego de tão lindos. Nossa geada cria pequenos flocos de gelo na vegetação, que continua bem verde mesmo no inverno. Aqui o gelo é tanto que aparece em placas enormes, e não em flocos, não tendo esse encanto, e a natureza perde a cor, transformando tudo em escala de cinza.
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