Durante a
faculdade, sempre fui mito resistente à clinica. Na minha ingenuidade
acadêmica, essa prática me parecia “pouco eficiente e muito demorada”. Quis o
destino que eu experienciasse a clínica logo no meu primeiro emprego, que dura
nada menos que 3 anos. Ao aplicar técnicas e teorias, logo comecei a perceber
mudanças importantes em meus pacientes (nome que ainda tenho dificuldades em
aceitar).
Trabalhando em
saúde pública, realizei projetos e vivenciei diversas formas de intervenções.
Porém, não custou para que eu percebesse que esse é nosso chão, e clínica não
se faz apenas em uma sala fechada com um paciente sentado à frente. Assim, fiz
clínica em escolas, em grupos, em oficinas ou atendimentos de outros
profissionais, em salas de espera, e, também, solita com um paciente.
Aos poucos, a
prática clínica foi me conquistando. Hoje, o que mais me recompensa na prática
clínica são as surpresas com as quais nossos pacientes nos presenteiam. Aqui
explico meu parênteses – não pode ser paciente quem muitas vezes toma as rédeas
do tratamento! Agora sei que sou uma facilitadora, organizadora e orientadora,
mas quem faz o trabalho sujo são eles, nossos atendidos. Por isso, nunca
aceitei esse termo. Mas na falta de outro que traduza melhor esse papel, ainda
o utilizo.
Hoje tive uma
dessas gratificações, que de tão boa precisei vir aqui compartilhar. Estou
atendendo alguém há cerca de 1 ano, de diferentes formas. Fiz intervenções em
grupo e atendimentos multiprofissionais, até por fim vir a atende-la na clínica
individual. Ela (uma mulher determinada no auge dos seus “30 e poucos”) sempre
se demonstrou muito ativa e criativa. Com o tempo foi me contado sua “nada mole
vida”, com muitas passagens tristes, desesperadas e sombrias. A sessão de hoje,
porém, foi totalmente diferente de todas que já realizei até hoje, com ela ou
com outros pacientes. Já cansada de contar-me sua rotina, ela decidiu por
ilustrar. Fez uma compilação de sua linha do tempo até que aconteceu uma grande
mudança. Depois disso, mostrou-me as pessoas mais importantes de sua vida. Tudo
isso em um álbum de fotografias. Afinal, o que seria melhor para ilustrar um
momento do que o registro dele?
Pois bem, eu
adoro fotografias e por várias vezes já fiz compilações como esta. Nenhuma
delas, no entanto, conseguiu comportar tanta história, sorrisos e lágrimas como
a dela. Foi como ter visto sua alma com todos os seus sentimentos em cada
história que compõe a sua própria. O que mais me tocou, então, foi a forma como
ela conseguiu que eu tocasse sua alma com todos os remendos e feridas. Foi como
um espelho me refletindo sua personalidade; quase como uma lupa. Senti-me tão
despreparada enquanto profissional... Por mais técnicas e teorias, jamais
conseguiria chegar a tamanha profundidade. Hoje a paciente fui eu, e ela me
demonstrou na prática as palavras de Jung: “Conheça todas as teorias, domine
todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana seja apenas outra alma humana”.
E agora eu é que vou para o divã.
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