Terminei a graduação como um rito de passagem,
considerando-me “gente adulta” por ter um grau no nome. Fui trabalhar e conheci
um mundo novo e fascinante, onde as pessoas confiavam a mim tarefas nem sempre
fáceis, mas sempre com a certeza de que eu daria conta. Me vi organizando a
vida de muitas pessoas e sendo agradecida por isso. Com todas as ambições da
graduação, em nenhum momento dos cinco anos que passei nela pude imaginar que o
início seria tão bom, tão instigante e desafiador. Querendo manter essa
experiência, voltei à Universidade, agora como pós graduanda, acreditando que o
final dos dois anos me traria essa mesma sensação, ou até amplificada. Novamente
intervi na vida de outras pessoas, dei pitacos e opiniões sobre como as coisas
funcionam e acrescentei outro grau no meu nome. Ainda fico emocionada ao ler “Psic.
Ms.”, apesar de ter lido isso bem menos vezes que o “Psic.”, que é como
realmente me sinto. Porém, desta vez foi diferente. Não teve o glamour nem o
reconhecimento do esforço, que foi muito maior que o da graduação. Trabalhei e
estudei, me virei em várias para dar conta de tudo mais a família e a casa, e
terminei o mestrado apenas tendo um “Ms.” a mais no nome. Não foi nada do que
ouvi de professores e colegas, não vi aumentarem as oportunidades, tampouco o
reconhecimento. Tudo o que vivenciei nos primeiros anos de trabalho ficaram por
lá, e a vida de mestre acabou sendo mais difícil e frustrante que a de
graduada. Talvez eu tenha passado muito tempo dentro da universidade e pouco
onde realmente interessa, que é no dia a dia sofrido de cada um. Prolonguei uma
ilusão, aumentei uma frustração e permaneci no mesmo lugar. A entrada da pós
graduação deveria vir com um aviso: “Cuidado! Aqui tem muito trabalho e pouco
glamour. Se não quiser isso, nem venha para cá, procure outros lugares mais
seguros e rentáveis”. Tudo bem, eu sei
que tem pessoas com sorte maior que a minha, mas ao que vejo de colegas e
pessoas próximas, infelizmente ainda são exceção. Acontece que vivemos em um
país em desenvolvimento, onde a qualificação profissional é vista como um gasto
desnecessário e não como investimento. Ainda temos muito do Brasil Colônia,
aquela terra explorada para dar o máximo de lucro e o mínimo de investimento. Como
profissionais, temos a necessidade de procurar mais conhecimento e qualificação
para o que nos desafia todos os dias, mas ingenuamente não percebemos que o
empregador não quer qualidade, mas quantidade, que é o que aumenta o lucro – o que
realmente importa a ele. Por ironia, ouvimos muito a desculpa de “não posso te
contratar porque você não tem qualificação suficiente”. Hoje ouço “você é
qualificada demais, tornou-se uma profissional cara”. Na verdade, isso só serve
para mascarar o “você não tem indicações, por isso não serve para nós”. O mercado
de trabalho hoje é canibal, e sobreviver nele não é tarefa fácil. A verdade é
que não tem lugar para todos, e se sobressai quem faz aumentar a margem de
lucro entrando nesse jogo (muitas vezes sujo) de “faça aumentar meu capital,
independente do que você precisa utilizar para isso”. E a pós graduação nos
ensina a pensar, a julgar pelo melhor caminho e maior qualidade. Assim sendo,
nós, pós graduados, somos jogados para fora desse universo por não entrar nesse
ciclo vicioso. E não estou instigando que deveria ser diferente, apenas penso
que vai chegar um ponto que isso precisará se equilibrar. Mas até lá, futuro
mestre, fique avisado que nem tudo são flores, muito menos o seu projeto irá
mudar o mundo. Mesmo assim, vá em frente, pois ainda é melhor ser uma peça fora
do jogo que consegue entender e conviver com o mundo do que um alienado que
sofre por assim ser. E boa sorte!
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